quinta-feira, setembro 28, 2006

Antes que passem as eleições



Enquanto ouço ao fundo a apresentação do Charlie Brown Junior no Video Music Awards da MTV brasileira, aqui vão minhas poucas palavras sobre as eleições deste ano. Aliás, minhas poucas palavras sobre política em muito tempo. Para um blogue que começou falando muito sobre isso, eis a medida do meu atual desencanto e cansaço em relação a esse tema.

Nos últimos tempos o que mais tenho visto são pessoas espantadas. Muito espantadas mesmo. Durante os últimos meses, as opiniões que ouvi e li na mídia, e que depois vi ecoarem nas bocas de amigos e conhecidos, sempre foram de supresa e indignação frente à realidade. Como, afinal, depois de tanta meleca jogada ao ventilador, nosso presidente Lulinha ainda contará com a aprovação do povo brasileiro? Como, depois de ter enfiado a mão em tanta merda (como diria Paulo Betti), o sapo-barbudo ainda conseguirá continuar nosso Presidente da República?

Pois é, Lula vai ser reeleito neste domingo. Terá uma das maiores votações da história brasileira. E, se nos últimos tempos olhássemos um pouco além de nossos umbigos, se ouvíssemos só um pouquinho além da nossa rodinha de amigos, não teríamos nenhum espanto com isso.

Tentei fazer isso na semana passada. Como agora trabalho e, portanto, convivo bastante com as classes populares, pude aproveitar minha condição privilegiada para fazer uma rápida pesquisa de campo. Eis uma vaga descrição de uma de minhas entrevistas:

- Querida fulana, e então, vais votar em quem?
- Vou votar no Lula, André!
- Sério mesmo, fulaninha?
- Ah, André, ele fez muito pelos pobres!
- Mas mesmo com toda essa roubalheira?
- Ah, André, pelo menos ele ajuda a gente... Você não tem noção, aqueles meninos barrigudos que eu via lá no sertão... agora pelo menos os pobres tem o que comer...
- Mas mesmo com toda essa roubalheira?
- Mas as coisas melhoraram muito lá no Nordeste, você não sabe não... ele e aquele bispo, o Crivela, fizeram um montão de coisa por lá... Ah, André, ele é dos nossos, né, protege os pobres...
- MAS MESMO COM TODA ESSA ROUBALHEIRA, fulaninha?
- Ah, André, mas os outros também roubam!!

Enfim. Eu, um ex-eleitor do Lulinha, um esperançoso arrependido, acabei ali minha tentativa de me tornar um formador de opinião. Não tive mais argumentos.

Vamos admitir: meu amigo, sinceramente, você não é do povo. Eu não sou do povo. Nós, do alto da nossa indignação, não parecemos, nem um pouquinho, fazer parte do povo. Somos um ponto fora da curva nesta terra brasilis.

Não há aqui nenhum juízo de valor. Nem a você, nem ao povo. É simplesmente a realidade. E a simples realidade é que a população brasileira hoje vota no Lula em proporções gigantescas. Em proporções, talvez, maiores do que nunca. Maiores que em 2002, portanto. O povo está fielmente cativado pelo presidente.

Ao constatar isso, não creio que haja aqui nenhum elitismo. Elitismo seria sim, como tem sido feito, tentar reduzir o espanto através de explicações rasteiras. Como, por exemplo, dizer que a vitória de Lula acontece simplesmente pelo povo ser mal-educado, precariamente informado, porcamente consciente.

Essa é apenas uma pequena parte da verdade. Um pouco do resto dela pode tentar ser percebida através daquele diálogo ali em cima. É preciso fechar muito os olhos para não enxergar que, há muito tempo, vem sendo criado uma espécie de apartheid social no Brasil. Nós estamos de um lado. Eles estão do outro. E, legítima ou ilegitimamente, sincera ou insinceramente, maquiavélica ou desinteressadamente, Lula está do lado deles.

Em 2002, nós, classe média educada, aderimos à "esperança" baseados em dois fatores: consciência da necessidade de um mínimo de justiça social + desejo de ética na política. Fomos fragorosamente frustrados no segundo fator. Quanto ao primeiro, ainda não conseguimos sentir isso direito. Acabamos, então, justificadamente desencantados.

Com a maioria da população, no entanto, se passou o contrário. Sentiram os efeitos do primeiro fator. Esmola, assistencialismo, oportunismo, isso não importa. Quanto ao segundo fator, bem, o povo está mais preocupado com o primeiro.

Portanto, por favor, tirem essa expressão de espanto do rosto. O povo quer o Lula, minha gente. Não importa se achamos isso correto, se chamamos isso de degeneração moral do país. Para o povo, imoralidade é não comer direito, é não sobrar um dinheirinho na carteira no final do mês. A maioria quer o homem. E isso se chama democracia, estúpido.

Parafraseando nosso simplista mas didaticamente claríssimo governador Lembo, a "elite branca" passou décadas tornando o terreno fértil para a criação do sapo-barbado. Agora que o engula e trate de cuidar da sua indigestão.

Tudo isso é muito triste. Mas, de um vez por todas, vamos parar fingir que fomos pegos de surpresa.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Cicarelli & Sanduíche de Mortadela



Na falta de tempo e inspiração para escrever alguma coisa que preste, me utilizo das palavras dos outros para expressar minhas opiniões.

Primeiro, sobre o vídeo da Daniela Cicarelli. Não sou nenhum fã da dita-cuja. Mas, tirante a possibilidade de tudo não ter passado de uma armação a la Paris Hilton, estou com o Tuty Vasquez - menos moralismo, por favor, lamentável foi dar o golpe no fofômeno e se casar no Castelo do Chantilly, amorzinho gostoso na praia azar de quem ainda não fez.

Segundo, um texto muito interessante sobre o superestimado sanduíche de mortadela do Mercado Municipal de São Paulo, escrito pelo crítico gastronômico Josimar Melo na Folha de São Paulo. A dica e o link são do Catarro Verde.