quarta-feira, dezembro 20, 2006

Melhores de 2006

Bem, ao menos este blogue moribundo foi divinamente guardado, nestes últimos meses, pela beldade aí embaixo. Obrigado Anne.

Para usar o desfibrilador, coloco aqui meus votos para a lista de Melhores de 2006 que o Marcelo Costa publicará em meados de janeiro próximo no Scream&Yell. Serve de resumo do ano.


MELHOR DISCO NACIONAL

Me abstive, desculpem.


MELHOR DISCO INTERNACIONAL

1. Modern Times - Bob Dylan
2. Sam´s Town - Killers
3. Broken Boy Soldier - Racounters
4. First Impressions of Earth - Strokes
5. Eyes Open - Snow Patrol


MELHOR MÚSICA NACIONAL

1. O Mais Vendido - Mombojó
2. Semáforo - Vanguart
3. Just Done - Forgotten Boys
4. Antes do Fim - Gram


MELHOR MÚSICA INTERNACIONAL

1. When You Were Young - Killers
2. Thunder on a Mountain - Bob Dylan
3. Crazy - Gnarls Barks
4. Working Man´s Blues - Bob Dylan
5. Steady as She Goes - Racounters


MELHOR CAPA DE DISCO NACIONAL

1. Homem Espuma - Mombojó


MELHOR CAPA DE DISCO INTERNACIONAL

1. Pieces of People We Love - The Rapture
2. Modern Times - Bob Dylan
3. Broken Boy Soldier - Racounters


MELHOR SHOW NACIONAL

1. Vanguart - CB
2. Forgotten Boys - Coppola / Studio SP
3. Cachorro Grande - CCSP Vergueiro
4. Los Hermanos - Palace
5. Wander Wildner - Camalehon


MELHOR SHOW INTERNACIONAL

1. Franz Ferdinand - Motomix Festival
2. Brad Meldhau - Auditório Ibirapuera
3. New Order - Via Funchal
4. U2 - Morumbi


MELHOR FILME

1. Match Point (se for considerar de 2006...)
2. Boa Noite, Boa Sorte (idem...)
3. Cinema, Aspirinas e Urubus (tridem...rs)

4. Infiltrados
5. O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias
6. Pequena Miss Sunshine
7. A Lula e a Baleia
9. Volver
10. Diabo Veste Prada
11. 007 Cassino Royale
12. Plano Perfeito


MELHOR SITE (exceto o S&Y)

1. No Mínimo - http://nominimo.ig.com.br/
2. Insanus - http://www.insanus.org/


MELHOR LIVRO

1. Extremamente Alto & Incrivelmente Perto - Jonathan Safran Foer
2. Mãos de Cavalo - Daniel Galera


MELHOR DVD

1. Cool Britania 2 - Later with Jools Holand


MELHOR BLOG

1. Nova Corja (coletivo) - http://www.insanus.org/novacorja/
2. Pensar Enlouquece (Alexandre Inagaki) - http://www.gardenal.org/inagaki/
3. Gymnopedies (Jonas Lopes) - http://gymnopedies.blogspot.com/
4. Samjaquinsatva (Renato Parada) - http://www.insanus.org/parada/
5. Gravataí Merengue - http://www.gravataimerengue.com


terça-feira, outubro 03, 2006

E o fatalismo ruiu


Contrariando a expectativa geral da opinião publicada no país, eis aí o segundo-turno. Picolé-de-chuchu surpreendeu a todos. Nada de final da história, a discussão vai mais adiante. Mais um mês de prazo para vermos se essas eleições, enfim, pegam algum fogo, geram alguma discussão decente. Lulinha deve descer de seu pedestal, perder a ambição de canonização, rever seus conceitos. Quem sabe. Saldo final (por enquanto) positivo para o país.

Particularmente, sem agora nenhum Cristovam Buarque para votar, fico na amargura de decidir meu novo voto. Devo anular, provavelmente. Me confesso covarde demais para escolher entre a Turma de São Bernardo e a República de Pindamonhangaba.

De resto, se fica na procura de números e nomes que dêem algum alento à evolução da civilização por estas bandas tupiniquins. A alegria pela deposição da dinastia Carlista na Bahia é ofuscada pela lista de deputados federais eleitos em São Paulo. Maluf, Russomano, Clodovil, Enéas, Frank Aguiar, mensaleiros em geral. Eis a medida do voto consciente no vulgo estado mais desenvolvido da federação.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Antes que passem as eleições



Enquanto ouço ao fundo a apresentação do Charlie Brown Junior no Video Music Awards da MTV brasileira, aqui vão minhas poucas palavras sobre as eleições deste ano. Aliás, minhas poucas palavras sobre política em muito tempo. Para um blogue que começou falando muito sobre isso, eis a medida do meu atual desencanto e cansaço em relação a esse tema.

Nos últimos tempos o que mais tenho visto são pessoas espantadas. Muito espantadas mesmo. Durante os últimos meses, as opiniões que ouvi e li na mídia, e que depois vi ecoarem nas bocas de amigos e conhecidos, sempre foram de supresa e indignação frente à realidade. Como, afinal, depois de tanta meleca jogada ao ventilador, nosso presidente Lulinha ainda contará com a aprovação do povo brasileiro? Como, depois de ter enfiado a mão em tanta merda (como diria Paulo Betti), o sapo-barbudo ainda conseguirá continuar nosso Presidente da República?

Pois é, Lula vai ser reeleito neste domingo. Terá uma das maiores votações da história brasileira. E, se nos últimos tempos olhássemos um pouco além de nossos umbigos, se ouvíssemos só um pouquinho além da nossa rodinha de amigos, não teríamos nenhum espanto com isso.

Tentei fazer isso na semana passada. Como agora trabalho e, portanto, convivo bastante com as classes populares, pude aproveitar minha condição privilegiada para fazer uma rápida pesquisa de campo. Eis uma vaga descrição de uma de minhas entrevistas:

- Querida fulana, e então, vais votar em quem?
- Vou votar no Lula, André!
- Sério mesmo, fulaninha?
- Ah, André, ele fez muito pelos pobres!
- Mas mesmo com toda essa roubalheira?
- Ah, André, pelo menos ele ajuda a gente... Você não tem noção, aqueles meninos barrigudos que eu via lá no sertão... agora pelo menos os pobres tem o que comer...
- Mas mesmo com toda essa roubalheira?
- Mas as coisas melhoraram muito lá no Nordeste, você não sabe não... ele e aquele bispo, o Crivela, fizeram um montão de coisa por lá... Ah, André, ele é dos nossos, né, protege os pobres...
- MAS MESMO COM TODA ESSA ROUBALHEIRA, fulaninha?
- Ah, André, mas os outros também roubam!!

Enfim. Eu, um ex-eleitor do Lulinha, um esperançoso arrependido, acabei ali minha tentativa de me tornar um formador de opinião. Não tive mais argumentos.

Vamos admitir: meu amigo, sinceramente, você não é do povo. Eu não sou do povo. Nós, do alto da nossa indignação, não parecemos, nem um pouquinho, fazer parte do povo. Somos um ponto fora da curva nesta terra brasilis.

Não há aqui nenhum juízo de valor. Nem a você, nem ao povo. É simplesmente a realidade. E a simples realidade é que a população brasileira hoje vota no Lula em proporções gigantescas. Em proporções, talvez, maiores do que nunca. Maiores que em 2002, portanto. O povo está fielmente cativado pelo presidente.

Ao constatar isso, não creio que haja aqui nenhum elitismo. Elitismo seria sim, como tem sido feito, tentar reduzir o espanto através de explicações rasteiras. Como, por exemplo, dizer que a vitória de Lula acontece simplesmente pelo povo ser mal-educado, precariamente informado, porcamente consciente.

Essa é apenas uma pequena parte da verdade. Um pouco do resto dela pode tentar ser percebida através daquele diálogo ali em cima. É preciso fechar muito os olhos para não enxergar que, há muito tempo, vem sendo criado uma espécie de apartheid social no Brasil. Nós estamos de um lado. Eles estão do outro. E, legítima ou ilegitimamente, sincera ou insinceramente, maquiavélica ou desinteressadamente, Lula está do lado deles.

Em 2002, nós, classe média educada, aderimos à "esperança" baseados em dois fatores: consciência da necessidade de um mínimo de justiça social + desejo de ética na política. Fomos fragorosamente frustrados no segundo fator. Quanto ao primeiro, ainda não conseguimos sentir isso direito. Acabamos, então, justificadamente desencantados.

Com a maioria da população, no entanto, se passou o contrário. Sentiram os efeitos do primeiro fator. Esmola, assistencialismo, oportunismo, isso não importa. Quanto ao segundo fator, bem, o povo está mais preocupado com o primeiro.

Portanto, por favor, tirem essa expressão de espanto do rosto. O povo quer o Lula, minha gente. Não importa se achamos isso correto, se chamamos isso de degeneração moral do país. Para o povo, imoralidade é não comer direito, é não sobrar um dinheirinho na carteira no final do mês. A maioria quer o homem. E isso se chama democracia, estúpido.

Parafraseando nosso simplista mas didaticamente claríssimo governador Lembo, a "elite branca" passou décadas tornando o terreno fértil para a criação do sapo-barbado. Agora que o engula e trate de cuidar da sua indigestão.

Tudo isso é muito triste. Mas, de um vez por todas, vamos parar fingir que fomos pegos de surpresa.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Cicarelli & Sanduíche de Mortadela



Na falta de tempo e inspiração para escrever alguma coisa que preste, me utilizo das palavras dos outros para expressar minhas opiniões.

Primeiro, sobre o vídeo da Daniela Cicarelli. Não sou nenhum fã da dita-cuja. Mas, tirante a possibilidade de tudo não ter passado de uma armação a la Paris Hilton, estou com o Tuty Vasquez - menos moralismo, por favor, lamentável foi dar o golpe no fofômeno e se casar no Castelo do Chantilly, amorzinho gostoso na praia azar de quem ainda não fez.

Segundo, um texto muito interessante sobre o superestimado sanduíche de mortadela do Mercado Municipal de São Paulo, escrito pelo crítico gastronômico Josimar Melo na Folha de São Paulo. A dica e o link são do Catarro Verde.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Quem quer dinheiro?



Sim, eu devo ser um obsessivo-compulsivo. Tenho todo o acompanhamento da minha conta-corrente, numa planilhinha bacana no Excel, desde que comecei a ganhar minhas próprias patacas lá pelos idos de 1997.

Devo ser igual aquela senhora que foi descoberta guardando em casa toneladas de lixo. Ao invés de lixo, guardo esses dados. Esta noite, por exemplo, passei um bom tempo fazendo uma pequena revisão histórica. Olho para minhas despesas de 8 anos atrás, relembro de meus salários, revejo quanto ganhei e onde gastei, e sinto uma tremenda melancolia a partir de todos esses números.

É claro que não são os números. É minha pequena história. Mas o lixo daquela senhora espanhola também era, ao menos para ela, a sua pequena história. Sem dúvida, me diagnostico irremediavelmente como um maldito melancólico-saudosista-obsessivo-compulsivo.

A parte de tudo isso, o que me deixou deveras encafifado na revisão histórica desta noite foi verificar que, lá no meus longínquos tempos de recém-contratado, em 1997, havia mais dinheiro em minha conta-corrente que nos dias de hoje. Muito mais dinheiro. Há mais de oito anos atrás.

Apesar das justificativas óbvias (aumento dos custos-fixos, apartamento, morar sozinho, etc.) o fato por si só encerra um fracasso em qualquer plano de sucesso financeiro nesses primeiros anos de vida profissional.

Conclusão fácil e absolutamente pessoal: se meu objetivo até aqui foi $$$, o caminho está errado. Se meu objetivo até aqui não foi $$$, o caminho está completamente errado.

terça-feira, agosto 01, 2006

Grande discos da minha estante






Gilberto Gil (1968)


Alguns oito bons anos atrás, quando comecei a ouvir MPB com mais curiosidade, comprei uma caixa de 5 cds entitulada "Tropicália". Era uma edição comemorativa que continha os álbuns que inauguraram o Tropicalismo em 1968: os discos homônimos de Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e dos Mutantes, além do álbum-manifesto do movimento, a obra conjunta "Tropicalia ou Panis et Circensis".

Dos cinco, os melhores, sem dúvida, são os de Gilberto Gil e Gal Costa. Talvez Caetano tenha até construido posteriormente uma obra mais completa, mas esse seu disco tropicalista é simplesmente chato. Apesar de conter "Alegria, Alegria" e "Tropicália", o disco é plano e mal-produzido. Em seu livro "Verdade Tropical" (que também li naquela fase curiosa, vejam só) o próprio Caetano admite isso. Os Mutantes são mesmo demais, e seu disco, assim como o álbum-manifesto "Tropicalia", são bem interessantes. Ainda assim, Gil e Gal superaram os demais comparsas com álbuns repletos, não simplesmente de belas canções, mas de vida e energia. Era o tropicalismo, ora bolas.

Ambos os discos são deliciosos. Mas o de Gil, talvez, esteja um passo a frente. "Gal Costa" é pop até os ossos, tem até canção (duas!) de Roberto Carlos. Mas é também o álbum mais convencional do conjunto. "Gilberto Gil" ganha na inventividade, conseguindo unir os ousados arranjos do maestro Rogério Duprat com canções singelas, algumas de bucólica inocência, outras com dramaticidade visceral. Um álbum vivo, enfim, colorido como sua capa.

Confesso que hoje nem mais gosto de Gilberto Gil tanto assim. Mas é só esquecer que o sujeito virou ministro que esse disco continua lindo de se ouvir. E além de "Domingo no Parque", "Frevo Rasgado" e "Marginália II", tem uma daquelas minhas prediletas, um das famosas "canções que me fazem sorrir". É "Luzia Luluza", e a letra vai a seguir, só para deixar uma lembrança de sorriso aqui no blog.

Luzia Luluza
Gilberto Gil

Passei toda a tarde ensaiando, ensaiando
Essa vontade de ser ator acaba me matando
São quase oito horas da noite
E eu nesse táxi
Que trânsito horrível, meu Deus
E Luzia, e Luzia, e Luzia
Estou tão cansado, mas disse que ia
Luzia Luluza está lá
me esperando

Mais duas entradas, uma inteira, uma meia
São quase oito horas, a sala está cheia
Essa sessão das oito vai ficar lotada

Terceira semana em cartaz James Bond
Melhor pra Luzia, não fica parada
Quando não vem gente, ela fica abandonada

Naquela cabine do Cine Avenida
Revistas, bordados, um rádio de pilha
Na cela da morte do Cine Avenida, a me esperar

No próximo ano nós vamos casar
No próximo filme nós vamos casar

Luzia, Luluza, eu vou ficar famoso
Vou fazer um filme de ator principal
No filme eu me caso com você, Luluza
No carnaval

Eu desço do táxi, feliz, mascarado
Você me esperando na bilheteria
Sua fantasia é de papel crepom

Eu pego você pelas mãos como um raio
E saio com você, descendo a avenida
A avenida é comprida, é comprida, é comprida...
E termina na areia
Na beira do mar
E a gente se casa
Na areia, Luluza
Na beira do mar
Na beira do mar


terça-feira, julho 25, 2006

Um paulistano como você





Enfrentando o medo

Com medo das ações violentas do crime organizado, paulistanos como o estudante Felipe Bonani mudam seus hábitos. Ele trocou seu Porsche por um carro de um décimo do valor e evita sair à noite.

Realmente, tem coisas que só a Vejinha faz por você.

quinta-feira, julho 20, 2006

Essa novela & Um pouco de sacanagem



O tal do Manoel Carlos entende mesmo do riscado. Grande autor. Apesar de todos seus maneirismos, é o escritor de novelas em melhor forma da atualidade, desbancando medalhões como Aguinaldo Silva e Gilberto Braga. Não teve jeito, “Páginas da Vida” vai me fazer continuar a perder tempo com televisão por mais alguns meses.

Há, é claro, ainda muitos apesares. Regina Duarte é sempre um pouco mala. O melodrama no tratamento da doença de Glória Menezes avança muitas vezes as fronteiras da breguice. Constrangedora também é a atuação do casal Malhação, claramente ainda sem aptidão para segurar papéis de peso.

O lado positivo, no entanto, está fazendo valer a pena. As tramas cotidianas de Manoel Carlos funcionam um pouco como uma sitcom americana – são realistas até a medida do agradável. Fazem a gente espelhar nossa realidade naqueles dramas familiares e problemas de relacionamentos, mas ao mesmo tempo nos poupam de temas mais sombrios. Sofrer no Leblon é um pouco como curtir uma fossa ao som de bossa-nova. Vira melancolia, acaba até sendo gostoso.

Tarcísio Meira é um monstro. Agora que Raul Cortez se foi, divide com Paulo Autran e Walmor Chagas o panteão dos grandes atores ainda vivos. O personagem de José Mayer, sempre o garanhão cafajeste preferido do autor, tem agora um toque cômico que lhe dá alguma fragilidade e patetice. Suas estripulias estão hilárias, e ainda temos Natália do Vale ainda linda com seus 50 e lá se vão tantos anos.

Finalmente, o saldo também se equilibra em outro núcleo da novela. Se por um lado somos obrigados a aguentar o andróide Edson Celulari, fomos brindados pela deliciosa nudez de Ana Paula Arósio. Mesmo no país do Carnaval, se deve admitir que foram cenas ousadas para uma familiar novela das oito. Cenas ousadas, mas muito bem-vindas, é claro.

***

Indo um pouco além, essa nudez na novela das oito pode ser vista também como um reflexo de um fenômeno muito maior. Há algum tempo se ouve que, depois de mais de 40 anos de revolução nos costumes, a pornografia agora é a nova fronteira.

É interessante observar como isso é inegável. Não simplesmente a nudez, mas o sexo, explícito em diversos graus, está cada vez mais presente nos meios de comunicação e na vida cotidiana. Dos outdoors anunciando puteiros até o vasto conteúdo internético facilmente acessível, os exemplos sao varios. Paris Hilton se promove em cima de suas estripulias sexuais amadoristicamente filmadas enquanto atrizes-pornô dão depoimento em debates matinais na TV. Muito além da discussão sobre temas sexuais, também a exposição do corpo e do sexo vão se tornando, pouco a pouco, cada vez menos tabu.

É interessante notar como esse avanço da pornografia ocorre a partir do momento em que a revolução da informação se soma à já velha-de-guerra revolução sexual. O resultado é uma geração menos encanada sexualmente e com ferramentas à mão para desenfrear seu exibicionismo e seu voyerismo. Aos poucos, e com cada vez maior aceitaçao, a pornografia vai se transformando em fenômeno cultural. Vai virando fashion, cool, entra na moda.

No meio desse processo de abertura, acredito que o ponto mais interessante a ser discutido é aquele sobre quais são as fronteiras do bom-gosto e da vulgaridade em toda essa exposição sexual. Sem moralismos, essa talvez seja uma discussão muito mais estética que ética.

A internet, obviamente, é ferramenta e palco desse fenômeno. E nela já é possível notar algumas evoluções. O material pornográfico da rede, se antes era basicamente dedicado aos apreciadores dos filmes-pornô (leia-se adolescentes punheteiros), é hoje oferecido de formas muito mais variadas.

Lá fora isso já acontece há algum tempo. No Brasil, foi principalmente no último ano que começaram a aparecer sites que, mesmo continuando a oferecer conteúdo sexual e pornográfico, o fazem de maneira menos agressiva e mais elegante. Sites melhor desenhados, mais informativos, tambem voltados ao público feminino. Sem dúvida isso é sinal que a pornografia, fugindo da vulgaridade, vem tentando e conseguindo ampliar sua audiencia.

O Eros Blog é um claro exemplar gringo dessa tendencia. No Brasil, a coisa esta ainda começando. Um exemplo, mesmo que bem de leve, é o fato do portal jornalístico Nominimo ter escalado o colunista Pedro Dória para escrever o blog Papo de Homem, cujo título é auto-explicativo.

Falando em coisas mais pesadinhas, há alguns blogs que se caracterizam justamente por tentar oferecer a boa e velha sacanagem com elegância e bom gosto. Misturam o tradicional material visual (fotos e filminhos) com informação, curiosidades, contos, dicas e interatividade. O blog Lascivos é um bom exemplo disso.

Saindo dos guetos e deixando de ser coisa de desviados e maniacos, pornografia é hoje um assunto que dá pano pra manga. De teses sociológicas, filosofias de botequim, até conversinhas mais íntimas, existem diversas maneiras de abordar o tema. Há muito material interessante escrito na rede sobre o assunto. Assim que reencontrar algo, coloco aqui para quem se interessar.

segunda-feira, julho 10, 2006

Semideuses




A cornetagem dos hipócritas deve continuar a soar por muitos dias. O prato está cheio para que os ditos bom moços possam se lambuzar em cínico espanto, decepção e moralismo. Dirão que a imagem foi manchada. Chamarão de melancólica a despedida.

Os hipócritas, no entanto, nada entendem sobre a jornada dos semideuses. Mal sabem que é justamente na impossibilidade de fugir às fragilidades humanas onde inevitavelmente mora sua tragédia mas também, na mesma medida, onde reside sua glória.

Os cães podem ladrar à vontade. Mas alguns degraus acima da pretensa dignidade humana, Zidane segue a sina dos semideuses. Possuidor de poderes divinos, caiu lutando como um homem. Anjo caído, sujo pelo sangue de seus próprios pecados humanos. Mais glorioso que nunca.

terça-feira, julho 04, 2006

Antes que a Copa acabe




A vitória da Itália sobre a Alemanha desta tarde teve todos os ingredientes necessários para calar a boca da malta que andou se declarando enfadada pelo futebol exibido nesta Copa do Mundo. Foi um jogo épico. Houve tática, técnica, aplicação, arte e tragédia. As duas equipes exibiram um conjunto azeitado, ambas preparadas para enfrentar as qualidades adversárias e tentar impor seu estilo de jogo. Todos os jogadores deram seu máximo, dividindo jogadas, chegando ao limite de suas capacidades. Por fim, a partida foi decidida, para o deleite dos poetas e dos deuses do futebol, em dois lances em que a genialidade, a intuição e a arte se fizeram presentes. Alemanha derrotada com dignidade. Itália heroicamente na final.

Desnecessário dizer que a glória dos italianos, contra todas as conspirações e toda a pressão que envolve um jogo contra o anfitrião, me comoveu mais que qualquer jogo da nossa seleção canarinho neste torneio. A imagem de Gattuso chorando de alegria, extasiado e esgotado nas mesmas proporções, ofereceu a medida do que esperamos de um jogador de futebol. Estes sujeitos são eleitos de um povo, representam uma nação. A recompensa que tem é esta glória sobrehumana e, para isso, logicamente, esperamos deles um esforço sobrehumano. Esforço demonstrado hoje por Gattuso, Cannavaro e Camoranese. Esforço coroado pela classe de Pirlo, Grosso, Gilardino e Del Piero.

Parabéns à Azzurra. Foi a seleção desacreditada que todo o brasileiro gostaria de ter.

domingo, maio 28, 2006

All Along The Watchtower



"There must be some way out of here",
said the joker to the thief,
"There's too much confusion,
I can't get no relief.
Businessmen, they drink my wine,
plowmen dig my earth,
None of them along the line
know what any of it is worth."

"No reason to get excited,"
the thief, he kindly spoke,
"There are many here among us
who feel that life is but a joke.
But you and I, we've been through that,
and this is not our fate,
So let us not talk falsely now,
the hour is getting late."

All along the watchtower,
princes kept the view
While all the women came and went,
barefoot servants, too.

Outside in the distance
a wildcat did growl,
Two riders were approaching,
the wind began to howl.


[Bob Dylan, 1968]

quinta-feira, maio 18, 2006

Lembo ressucita



Não há nada mais dramático do que as entrevistas da Folha [com socialites, artistas, empresários e celebridades] desta quarta-feira. Na sua linda casa, dizem que vão sair às ruas fazendo protesto. Vai fazer protesto nada! Vai é para o melhor restaurante cinco estrelas junto com outras figuras da política brasileira fazer o bom jantar.(...)

Nossa burguesia devia é ficar quietinha e pensar muito no que ela fez para este país.(...)

O Brasil está desintegrado.


Cláudio Lembo, o líder omisso da segunda-feira, tenta agora mostrar algum culhão. Chama a burguesia na chincha e diz muitas verdades. Pode parecer inócuo, ou até inocente, mas é muito bom ver alguém revirando certas hipocrisias.

E ele é do PFL. E tá no poder. Tá tudo de ponta-cabeça mesmo. Vamos ver as repercussões.

Via Nova Corja

terça-feira, maio 16, 2006

Crise de Pânico



A segunda-feira foi de caos em São Paulo. Por sorte, estive em casa durante todo o dia e pude acompanhar o noticiário de uma maneira mais calma e seletiva, filtrando os boatos e o sensacionalismo daquilo que realmente acontecia. Minha namorada, por outro lado, estava em pânico. Trabalhando na Av. Paulista, tudo que ela ouvia eram ordens de toque de recolher e notícias sobre universidades sendo metralhadas. Seguiu a orientação de voltar para casa o mais rápido possível e ficou duas horas presa num imenso congestionamento. Tudo também acabou bem, graças a Deus.

O calor dos acontecimentos permanece e ainda há muita discussão sobre o assunto. Mas, a posteriori e já com um pouco mais de cabeça fria, é impossível negar que o pânico que atacou a população hoje foi bastante superior a qualquer aumento real do perigo que já apresentam normalmente as ruas de São Paulo.

Quando digo isso, não menosprezo nada do que aconteceu durante o fim-de-semana. Não menosprezo a bárbara chacina premeditada de mais de 30 policiais e agentes (fato que derrubaria o Secretário de Segurança Pública em qualquer país civilizado), nem a tragédia e a dor de suas famílias. Não menosprezo a falência das políticas e das instituições de segurança e de justiça do Estado, muito menos menosprezo a força de organização e comando exibida pelo PCC.

Mas a fria verdade é que, hoje, o que se viu em São Paulo foi menos um perigo real a integridade de seus cidadãos e muito mais uma crise de pânico social. Nesta segunda-feira, apesar da gravidade dos atentados terem diminuído drasticamente, foi o medo que tomou conta das pessoas. Medo este que, ele sim, podia trazer um efeito dominó de eventos trágicos.

O terror instaurado, no entanto, levanta outra questão: afinal o pânico exibido pela população era gratuito? Não, não era. Eu, dentro do meu castelo, na hipotética segurança do meu lar, tive medo. O medo não é um sentimento racional. Ele não analisa probabilidades ou estatísticas. Nossos instintos psicológicos de sobrevivência são muito mais sutis e incontroláveis. Dentro da situação em que vivemos já há tanto tempo, o medo exibido pela população foi completamente legítimo.

A questão é que o medo legítimo de cada um transformou-se em pânico coletivo. E é aí onde constata-se o imenso despreparo de nossas autoridades em lidar com uma situação limite como a que vivemos nesta segunda-feira. É claro que houve sensacionalismo na imprensa. Isso é condenável, mas é usual. Vemos o Datena na TV toda a semana. No entanto, o grande causador de toda a histeria e desordem vistas hoje foi o completo vácuo de autoridade visto em São Paulo. No meio de boatos sobre fugas de presídios e bombas no aeroporto, fomos obrigados a esperar até as 17:00 para ouvir uma autoridade se pronunciar com alguma credibilidade e segurança. O Coronel da PM do Estado, cujo nome agora me escapa, exibiu objetividade, procurou demonstar sobriedade e ainda reclamou dos boatos. Excelente pronunciamento, sr. Coronel. Mas, convenhamos, onde estava o Estado, até então, para coibir os boatos e acalmar a população? Onde estava o governador Cláudio Lembo durante todo o dia? Onde está escondido o prefeito Kassab? Por acaso temos ainda líderes sérios neste país? Por Tutátis, não se brinca assim com a psicologia das massas.

O pânico da cidade de São Paulo é a mais evidente vitória atingida pelos atos terroristas do fim-de-semana. Conseguiram instaurar o terror entre a população, desestabilizar a sociedade, tomar as instituições como reféns. Este pânico, e não o desafio à polícia, é sem dúvida a grande conquista do PCC.

E fica a triste sensação de que, ainda além da tragédia lamentável de tantas mortes ocorridas, o que se comprovou nesta segunda-feira foi o completo despreparo de nossas autoridades para lidar com situações de crise.

Ainda há pouco tempo, Londres foi atacada impiedosamente por terroristas e a resposta da sociedade foi a mais completa manutenção da vida cotidiana da cidade. Se São Paulo não foi capaz de oferecer isso, a razão não é a diferença de temperamento de nossa população, mas sim a total incompetência e falta de credibilidade que infelizmente caracterizam nossos líderes.

E desculpem minha exaltação.

***

Alexande Inagaki e Vinicius Mota tem visões interessantes e coerentes sobre o que se passou.

quarta-feira, maio 10, 2006

Três coisinhas



Depois de pirar no sofá da Oprah, Tom Cruise apareceu ontem no David Letterman. Foi recebido ao som de "Jump" do Van Halen. Sensacional.

***

Aqui tem uma resenha tardia do "V de Vingança", com comparações interessantes entre o gibi e o filme. Vincente Renner, crítico-gonzo de cinema do Gordurama, é hilário: "V de Vingança é um filme bastante corajoso para os tempos que correm. Mas isso tá ficando meio lugar comum. Eu disse a mesma coisa do X-Men 2. Sinal de que tá fácil ser corajoso nos tempos que correm..."

***

Mais Tom Cruise going crazy aqui.

domingo, maio 07, 2006

Os Garotos Esquecidos



Até que enfim. Depois de assistir a dois shows dos Forgotten Boys num mesmo mês, consegui ver a Débora Falabella. Na sexta passada, depois de ver a banda tocar no Studio SP e sem paciência para curtir a discotecagem tardia do Lúcio Ribeiro, eu já tinha me resignado e tomava o caminho de casa. Mas, na saída, ela estava lá, iluminando a noite escura na úmida calçada da Inácio Pereira da Rocha. Doce, doce.

Com todo o respeito, é claro. Vocês sabem, ela namora o Chuck Hipolitho, guitarrista da banda e muito lembrado por suas aparições eventuais no único programa que já prestou do Marcos Mion, o saudoso Piores Clipes, do qual era o diretor. Acho que ele ainda trabalha na MTV, não sei.

Apesar de ser a mais pura verdade, dizer que ver a Débora Falabella foi a melhor coisa da noite é sacanagem com o Forgotten Boys. Gosto da banda e curti muito estes dois shows que assisti. O som me lembra bastante meus hard-rockers preferidos, os Hellacopters, e ao vivo eles demonstraram muita competência e presença de palco. Essa música de trabalho deles, aquela em inglês, "Just Done", é sensacional, um hit perfeito, redondo e direto. Só não estoura comercialmente porque estamos no Brasil.

Mas uma coisa me intriga nos Forgotten Boys. Sei que eles tem tradição e estrada, que possuem reconhecimento da crítica e que criaram uma aura de mito no mundo da música independente. Mas eu não consegui sentir essa bagagem toda nesses shows que testemunhei. E digo isso devido exclusivamente à reação do público. Ao contrário da banda, cheia de vibração e simpatia no palco, a audiência se portava de uma maneira, senão apática, elegantemente descomprometida. Não digo que as pessoas não estivessem se divertindo. Estavam. Mas era simplesmente isso, estavam se entretendo apenas. E eu espero mais de um público de rock, principalmente num show de uma banda que mostra raízes nos Ramones, Iggy Pop e Stooges.

Eles não tem capacidade para inflamar o público? Não creio que seja isso. Posso estar enganado, mas a impressão que me ficou foi a de que o Forgotten Boys, apesar de toda a estrada, ainda não conseguiu formar uma base comprometida de admiradores. Parece que há algo desconexo entre o som que eles fazem, que sinceramente merece um público muito mais furiosamente empolgado, e a reação blasé que a platéia indie oferece a eles.

Nessa última sexta-feira, no Studio SP, talvez essa impressão tenha sido intensificada pela frequência da casa. A festa chamava-se "Moda é Rock" e celebrava-se o lançamento de uma coleção da Ellus. Ao costumaz público de indies e moderninhos da casa somou-se uma infinidade de pessoas que pareciam saídas diretamente da Faculdade de Moda da Santa Marcelina. Há algo realmente muito pretensioso no ar quando absolutamente todas as pessoas presentes numa festa carregam um toque inusitado no seu vestuário. Echarpes, chapéus e por aí a fora. Fico somente me perguntando se investir num público sem alma agrega algo a uma banda. Bem, talvez a hora dessa decisão já tenha passado, talvez não haja mesmo outra opção a se tomar.

Minha opinião pode ser precipitada, eu sei. Apenas fico triste, pois acho que eles merecem ser muito mais que uma banda para jornalistas e publicitários.

sexta-feira, maio 05, 2006

Livros






"Mãos de Cavalo", de Daniel Galera
(texto também publicado no site Scream&Yell)

Não estou bem certo agora, mas creio que foi algum filósofo ou alguma figura mitológica da Antiguidade que decretava um conselho básico para o ser humano e sua eterna busca pela verdade: "Conhece-te a ti mesmo". Saber claramente o que se quer da vida, ou melhor, alcançar conhecer a si mesmo com lucidez, continua sendo hoje uma tarefa para toda a existência. Um processo no qual, infelizmente, são poucos os que conseguem chegar perto de um resultado satisfatório - aquilo que chamamos de felicidade e paz de espírito.

Mas chega de especulações metafísicas. Porque Daniel Galera é extremamente concreto ao enfrentar essas questões em seu terceiro e mais novo livro, Mãos de Cavalo , lançado nesta semana pela Companhia das Letras. No livro intercalam-se duas histórias. Na primeira, temos a trajetória de um garoto que, dos dez aos quinze anos de idade, metido em suas aventuras de bairro, entre corridas de bicleta e campinhos de futebol, vive justamente as primeiras descobertas em relação à sua própria identidade. Na segunda, um jovem cirurgião plástico que, ao chegar aos trinta anos depois de uma rápida, árdua e bem sucedida trajetória de estudos e experiências profissionais, começa então a colocar sua escolhas em cheque, bem no momento em que sai para uma longa viagem com um amigo.

É claro, e logo se consegue fisgar a isca, que as duas trajetórias pertencem na verdade a uma mesma pessoa. No livro, no entanto, elas são tratadas como quase independentes e Daniel Galera, com habilidade, costura os capítulos e mistura as referências de uma maneira que traz ao leitor um grande prazer em acompanhar, ele próprio, o processo de auto-descoberta vivido pelo personagem. Tanto o garoto como o cirurgião vão descobrir que, tragicamente, só se conhece a própria identidade a partir de eventos-limite, extasiantes ou cruéis, momentos que vão ser carregados pela vida a fora. Entre ritos de passagem e acertos de contas, forma-se um indivíduo.

Durante as duas trajetórias, Galera não perde a oportunidade de explorar temas bastante interessantes. O fascínio pela violência estética em contraponto à covardia frente a agressividade real, o recalque das emoções, o desejo e a impressão de ver nossas vidas registradas pelas lentes de uma câmara de cinema. O protagonista de Mãos de Cavalo não é uma pessoa simples, talvez ninguém seja mesmo. E pouco a pouco o vemos exposto pelo autor. Através das descrições ultra-detalhistas de cada situação, vemos dissecadas suas impressões frente a cada situação, seja ela o descer vertiginoso de uma ladeira montado numa CaloiCross aro 20', seja testemunhar o ventre de sua esposa ser rasgado durante o parto enquanto a anestesia ainda não funcionava.

Um dos pontos mais atraentes de Mãos de Cavalo, e aqui não há como esta opinião deixar de soar bastante particular, é a empatia “geracional” oferecida pela história. Identificando-se como contemporâneos do protagonista (e também praticamente do autor, já que Daniel Galera tem 27 anos de idade), qualquer homem de trinta anos que ler o livro vai inevitavelmente ser atacado pela nostalgia. Vai se lembrar de alguma pequena aventura da infância, uma invasão de algum terreno baldio ou uma intriga belicosa com a turma da rua de baixo. Ou mesmo apenas sentir saudades de eventos cotidianos, como ir jogar video-game na casa dos amigos ou jogar futebol na rua. Imediatamente lhe virá a cabeça a trilha sonora que mais lhe aprazia na época e, sem perceber, estará mergulhado no meio de suas próprias recordações. No entanto, há no livro também uma outra história, a crise dos 30 anos de um cirurgião plástico, cheia de culpas e reavaliações, e então, de um capítulo para o outro, o mesmo leitor vai ser expulso da nostalgia e será jogado numa dolorosa e frenética busca por paz e redenção. Talvez a grande conquista de Mãos de Cavalo seja conseguir gerar essa empatia e, ao mesmo tempo, tratar de assuntos tão pouco simples.

A dúvida que fica é a seguinte: o livro funciona apenas em razão desta identificação geracional? O personagem funciona apenas por que viveu situações características de nossa própria época de vida? Se a resposta for positiva, cria-se a hipótese de Mãos de Cavalo ser um livro recomendado apenas para homens com mais-ou-menos trinta anos de idade.

Mas a aposta é que não. O nível de maturidade exibido por Daniel Galera, a forma incisiva e objetiva com que ele expõe seu personagem, faz acreditar que o autor conseguiu ultrapassar uma mera afinidade de geração com sua narrativa. O personagem não funciona apenas porque nos é contemporâneo. Nos identificamos, na verdade, com a complexidade daquele sujeito. Afinal, Galera não oferece saídas fáceis, nem arrisca interpretações psicanalíticas simplistas. Ao ponto que, no final, admita-se, fica a tentação de querer mais respostas, fica um sentimento de carência de razões e significados mais objetivos. Mas querer isso talvez seja justamente negar a profundidade alcançada pelo personagem.

O nome de Daniel Galera surgiu, inicialmente, ligado à turma de estudantes gaúchos que publicava o já falecido e-zine Cardoso OnLine. O COL, como era carinhosamente apelidado, foi um dos primeiros fanzines distribuídos por e-mail e, na época, era certamente aquele com maior alcance e repercussão. Mais tarde, Galera fundou, junto com o também escritor Daniel Pelizzari, a editora Livros do Mal, pela qual publicou seus dois primeiros livros, a coletânea de contos Dentes Guardados, também traduzida e lançada na Itália, e o romance Até o Dia em que o Cão Morreu, que está sendo adaptado para o cinema por Beto Brant. Os dois primeiros livros de Galera são também ótimos e valem muito a pena serem lidos. Geram a mesma empatia mas, diferentemente de Mãos de Cavalo, seriam classificados mais adequadamente na categoria "livros que eu gostaria de ter escrito aos 22 anos de idade". Com seu último livro, a impressão é que Galera somou maturidade à sua costumaz capacidade criativa. Seja apenas mais um retrato de sua geração ou não, o que importa é que sua literatura continua agradando, dando prazer e fazendo pensar.



P.S.: Dentes Guardados está disponível para download gratuito no site do autor. Aproveite.

P.S.2: Lá no Scream&Yell também há um outra resenha bastante interessante sobre o livro, escrita pelo Moreno Osório.


quinta-feira, maio 04, 2006

E o Corinthians já era



O River foi menosprezado por todos os analistas esportivos e o Corinthians, também contaminado por alguma prepotência, só conseguiu exibir em campo o reflexo da desorganização que tem fora dele. Talvez não baste só confiar no talento.

De resto, o mais impressionante foi ver a rebelião popular dos sans-culotte corintianos. Visão aterradora das massas bárbaras tomadas pela fúria e pelo desejo de destruição. Qualquer líder político gostaria de ter o poder de mobilizar aquela energia.

No final, a horda acabou dominada por dez valentes guardas sem escudos. Mas que foi assustador, isso foi.

sexta-feira, abril 28, 2006

Red Bull



Depois de quase uma semana gripado, muito bom ouvir isso pra reenergizar.

Aliás, mais uns dias e já faz dois anos.

quarta-feira, abril 26, 2006

Administração do lar



Mission accomplished: declaração do imposto de renda entregue nesta tarde. E ainda superei um vício: nos últimos 4 anos sempre deixava o envio para as adrenalizantes e concorridas últimas horas.

Amanhã é dia de mais emoção: enfrentarei duas centrais de telemarketing. Uma operadora de cartão de crédito será obrigada a me livrar de sua anuidade exorbitante. E um certo jornaleco, cuja assinatura cancelei meses atrás, vai ter que me reembolsar as parcelas que continua me surrupiando indevidamente. Maldito débito automático. Evitem, evitem.

Tem também umas lâmpadas para trocar. E, tendo já virado o dia do cartão, é hora de voltar ao supermercado.

Eu sei, vocês não tem nada a ver com isso. Mas enfim.

terça-feira, abril 18, 2006

Cotidiano & Repulsa ao Sexo



Gosto de ler o caderno de notícias locais dos jornais. Na Folha, acho que se chama Cotidiano. No Estadão, que leio aqui na casa da mamãe, se chamava Cidades e agora, acho que cresceu, se chama Metrópole. É sempre uma experiência de sensações contrárias. Por um lado, ali estão as matérias mais prosaicas, os acontecimentos mais cotidianos, as curiosidades mais singelas. Por outro, é também ali que se estampam todos os crimes e tragédias privadas que aconteceram no dia anterior.

É claro que, seja a curiosidade prosaica ou o crime cruel, o destaque especial vai sempre para a notícia com os detalhes mais inusitados, curiosos e particulares. Isso é jornalismo, afinal. Como diria Evelyn Waugh, "se um cão morde um homem, isso não é nada. Se um homem morde um cão, isso é notícia". Elementar, meu caro. Mas não importa. Por mais bizarros os acontecimentos, por mais "ponto-fora-da-curva" que sejam os crimes ali retratados, o caderno local sempre tem um gosto maior de realidade, de proximidade, do que as páginas de política ou qualquer notícia sobre os atentados em Israel ou as eleições na Croácia.

***

Tudo isso para dizer que hoje pela manhã eu havia me espantado com uma notícia lida no caderno Metrópole do Estadão. Entre um bebê jogado da ponte e outro asfixiado no carrinho, foi esta matéria em especial que conseguiu me chamar a atenção. Nem ia comentar por aqui, mas acabei de ler um post do Parada sobre. Vamos lá então.

Parece que uma garota de Marília teve fotos suas, transando com dois homens, publicadas no Orkut. Parece também que afixaram as tais fotos nas paredes do seu colégio. E que, durante a manhã, o diretor da escola foi obrigado a chamar a polícia pois os alunos do colégio, exaltados e indignados, ameaçavam invadir a sala de aula para acertar as contas. Com a menina fotografada. Tiveram que escoltá-la até em casa.

Como disse o Parada, quando eu li a matéria me ficou a sensação de algum erro de edição, de ter faltado algum parágrafo. Mas acho que foi esse mesmo o acontecido.

Soa como filme colegial americano, onde, em geral, a fotografada geralmente é aquela vilãzinha entojada que finalmente foi desmascarada. Na vida real, no entanto, a coisa fica muito, mas muito mais triste do que isso.

segunda-feira, abril 10, 2006

Allons enfants






PARIS, 10 abril (AFP) - O governo francês decidiu, nesta segunda-feira, retirar o Contrato de Primeiro Emprego (CPE) e substituí-lo por outro mecanismo trabalhista destinado aos jovens em uma tentativa de colocar um ponto final na onda de protestos e greves que levaram o país a uma crise política.

"Não existiam as condições necessárias de confiança e de serenidade, nem entre os jovens, nem por parte das empresas para permitir a aplicação do CPE", declarou Villepin em breve declaração pública.


Talvez um pouco de ação ainda possa fazer sentido.

Agulhadas no Geraldo






A Veja tratou com escândalo os investimentos da Telemar na empresa de videogames do filho do presidente.

Vamos ver como isso será tratado. Nova Corja comenta.






Banksy. Gênio.

Via Douglas Kim

quarta-feira, abril 05, 2006

Livros




Memórias de Brideshead, de Evelyn Waugh

Era ainda começo de Janeiro quando terminei a leitura. A pegada do livro foi forte, e ele ficou em digestão, incomodando meu estômago, por algumas semanas. Quando sentei para escrever alguma coisa, sairam umas oito páginas de pensamentos desconexos. Burilei mais um pouco, cortei aqui e ali, mas o texto ainda ficou grande. No final, até achei o resultado bom, mas é frustrante desejar transmitir uma idéia com objetividade e fracassar inegavelmente.

Apesar do tamanho, o Marcelo Costa topou mesmo assim publicar o textão no S&Y. Tinha esquecido de linkar aqui. Para quem se interessar por Evelyn Waugh (e eu torço para que voce se interesse), talvez valha a pena. Mas tome fôlego, eu avisei.

segunda-feira, abril 03, 2006

Este cara é uma piada




"A única coisa que não gostei é que ele apitava e olhava para mim. Fez isso várias vezes. Eu não sou veado. Não sei se ele gosta."


Taí o exemplo de um sujeito que, por mais títulos que conquiste ou ternos caros que vista, nunca vou deixar de considerar um baita jeca-tatu. Podem vir com os números que quiserem, podem falar que ele é "mal-caráter mas é vencedor" (uma nova versão futebolística do rouba-mas-faz, talvez?). Eu não me convenço. O indivíduo só dá certo aqui, nestes nossos campeonatozinhos mequetrefes, onde só sobra o refugo dos talentos do futebol mundial. Sempre que a auto-estima exacerbada o fez dar passos mais ambiciosos, entrou pelo cano (seleção brasileira, Real Madrid). Porque nunca vai possuir a classe profissional de um Felipe Scolari ou Carlos Alberto Parreira. Porque hoje, para ser técnico de futebol é preciso muito mais que ser um bom boleiro de várzea, muito mais que saber fazer boas alterações no intervalo ou dar pretensos "nós táticos" no adversário. É preciso ser profissional, é preciso saber lidar com toda a complexidade, esportiva e organizacional, que caracteriza o futebol atual. O indivíduo nem mesmo consegue ser controverso com classe, como faz o Émerson Leão. Não, é sempre de uma cafajestagem grosseira e chinfrim. Quem tem um olho vira mesmo rei em terra de cego. Não podia ser outro o ídolo da nossa imprensa esportiva provinciana.

Mas, enfim, tudo isso é só a minha modestíssima opinião.

quarta-feira, março 29, 2006

Cinema Popular Brasileiro






O Kléber Mendonça, editor do ótimo Cinemascópio, perdeu a paciência com as últimas produções do cinema nacional, coisas como Gatão de Meia-Idade e A Máquina, e conseguiu também disparar a verve, ao mesmo tempo, do Allan Sieber (charge acima) e do Arnaldo Branco (tirinha abaixo).

Faz-se então a rede nacional anti-comedinhas românticas mal-feitas e subsidiadas. Não sou visceralmente contra o apoio do governo à produção de cinema. Mas ver o dinheiro público financiando iniciativas sem nenhuma pretensão artística, ou seja, com temáticas comercialmente viáveis, e depois assistir a um filme ruim atrás do outro é dose. Faz duvidar do velho argumento “é preciso quantidade para obter qualidade”. Será? Acho que só quantidade não basta.

Aí você vai me perguntar: “então, seu merdinha, qual é a solução?”. Sei lá. Por enquanto sigo advogando pela importação de roteiristas argentinos. Um esforcinho diplomático do Ministro Gil e já seria um começo. Aliás, vão conferir Não É Você, Sou Eu e testemunhem uma comédia romântica bobinha, comercial até a medula, cheia de fórmulas recicladas, mas que ainda pode se chamar de cinema.




segunda-feira, março 27, 2006

Teatro






Aos poucos vou retomando o costume de ir ao teatro. Fomos ontem assistir "Leila Baby", em cartaz no Cultura Inglesa. O convite foi do Gravata, que vem a ser colega da atriz protagonista, Juliana Mesquita, e minha curiosidade pelo texto do Mário Bortolloto fechou o negócio.

Valeu muito a pena. Talvez num outro dia, ou numa outra peça, eu provavelmente rotularia a temática de drama pós-adolescente e desancaria aquela rebeldia de sarjeta como boba e simplista. Mas desta vez acho que fui pego pelo estômago, justamente por essa aparente simplicidade do texto do Bortolloto. Outro dia tínhamos ido ver a montagem de "A Serpente", com a Débora Falabella, e, apesar do pretensamente mais profundo texto do Nélson Rodrigues, a peça não me cativou da mesma maneira. Devo estar cansado de tantos psicanalismos.

Em "Leila Baby" não há traumas de infância. Há só o blues seco do cotidiano, um blues que começa com leveza e termina sem redenção. Os diálogos são ótimos, coloquiais e bem-humorados. O par de atores contribui muito. Juliana Mesquita conseguiu dosar bem o sotaque interiorano e o jeitinho patilene ingênuo da sua Leila, tirando bastante verdade do que poderia cair facilmente numa caricatura. O mesmo vale para Daniel Alvim. Seu personagem, o cruel destruidor de toda a inocência da Leila bebê, é, ainda assim, cativante.

O final me trouxe um gosto amargo. Não vou contar aqui, claro, mas acho que eu faria diferente. Mas, enfim, a peça não é minha, é do Mário. Cruel Mário, cruel.

Leila Baby
com Daniel Alvim e Juliana Mesquita
Direção de Jairo Mattos
Sexta (21h30) Sábado (21h) Domingo (19h)
Teatro Cultura Inglesa – Pinheiros
Rua Deputado Lacerda Franco, 333

quinta-feira, março 23, 2006

Tenha modos, Dona Angela



Dona Angela, a senhora até tem jeito de ser uma daquelas tiazinhas simpáticas que sorriem pra gente na fila da padaria. Leva jeito de ser uma vovó carinhosa, daquelas que ainda fazem permanente nos cabelos e tem cheiro de talco.

Mas isso não se faz, Dona Angela. Por mais curriculum que a senhora tenha pra mostrar, a senhora vacilou. Agora virou símbolo dessa nossa cultura política execrável, retrato daqueles que expandem a malemolência simpática do dia-a-dia para o trato irresponsavel com a coisa pública.

A senhora é o sinal mais fiel deste nosso tempo. O povo vai te esquecer, claro, porque o brasileiro é bundão por demais da conta. Mas a senhora vai virar bode-expiatório da imprensa, pelo menos por uns três dias. Eu acho que isso é bem feito.

Quem acha que a Dona Angela merece um pouco mais de aporrinhação, pode enviar um e-mail para o endereço angela@angelaguadagnin.net. Ou entrar na campanha de achincalhamento que o Nova Corja está promovendo.

quarta-feira, março 22, 2006

Itália



Das coisas bonitas que se lê pelos blogues. Eu não conheço a Itália, só alguns italianos, mas o post da Vanessa Wozcniaki me encheu de vontade.

Made in Italy

Eu gosto dos costumes, dos rituais de refeiçoes, dos pratos sazonais e dos doces tipicos da Italia. Antipasto, primo, secondo, contorno, dolce, fruta, cafe. Pasta fredda no verao, melao e prosciuto crudo. Pene alla matriciana no inverno. Aspargus pra a primavera e castanhas no outono. Doces tipicos de carnaval, vinhos e cafes, um mundo todo a ser descoberto.

A maneira que levam a vida e seus slogans "Italians do it better". Pergunta-se pra que lado fica, mesmo que a placa esteja a sua frente... elas nao sao confiaveis. Um responsavel mandou pinta-la, mas o operario que a plantou ali achava que era mais style virada ao contrario. A noçao norte-sul varia de italiano pra italiano, quindi....

O carnaval eh cheio de mascaras e fantasias. O chao coberto de confete e muitos baloes coloridos. Os doces tipicos e as crianças correndo na rua. Nao quero lembrar dos marrocos. Na manha seguinte a praça esta limpa.

O modo relaxado como vivem. Como reconhecem a sua condiçao humana e limitada e ao mesmo tempo nao colocam a culpa de seus defeitos nisso. A moda que dita tendencias. Os elogios multiplicados. Os mil cafes oferecidos. A mafia. A familia. A Igreja. E o individuo. Complexo.

segunda-feira, março 20, 2006

O menino é maluquinho



E ela levou uns tapinhas e se fez de indignada.

Mais leituras à luz de G.Alckmin



Brizola nunca formulou qualquer plataforma que cheire sequer a socialismo. É nacionalista e acredita em governo sob comando autoritário do Estado. Quando o conheci pessoalmente, no Rio, em 1962, (...), estava em companhia de Marcos Vinícius Caldeira Brant e de José Serra, então dirigentes da UNE e muito radicais. Serra, um dia, poderá ser presidente do Brasil. Abandonou o radicalismo estéril. Tem imaginação. Me pergunto se aguenta o rojão.
Paulo Francis, "Trinta Anos Esta Noite", 1994.


O PSDB tinha dois candidatos. Um deles, segundo a última pesquisa do Ibope, estava empatado com Lula. O outro perdia no primeiro turno. O escolhido foi o que perdia no primeiro turno. Para quem está empenhado apenas em se livrar de Lula, como eu, e não dá a mínima para a disputa interna dos tucanos, o resultado não poderia ser pior. Pensei em atear fogo à sede do PSDB.
Diogo Mainardi, Revista Veja, 18/03/2006.

sexta-feira, março 17, 2006

Leituras à luz de G. Alckmin



(Sobre o regime militar 1964-1984)(...) as melhores pessoas, incorfomadas com imposições militares, aderiram ao terrorismo, morrendo quase todas ou se estragaram, psicologicamente, de alguma forma. Outras foram para a iniciativa privada. Quando veio a abertura democrática, em 1985, já estavam comprometidas demais com seus afazeres, responsabilidades etc para tentar a vida pública. O que é uma das causas da escumalha política hoje dominante no Brasil. Ulisses Guimarães, que emergiu como líder civil democrático nos últimos anos de regime militar, era um político insignificante nos tempos de Jânio e Jango. Lembro de um jantar em Brasília, 1961, em que toda vez que Franco Montoro abria a boca, era admoestado pelo líder do PDC, Paulo de Tarso: ‘Pára de dizer besteira, Franco’. Gerações perdidas...
Paulo Francis, em "Trinta Anos Esta Noite", 1994.


A natureza humana é sondável e o que se descobre, quase sempre, não faz bem à saúde. Yeats, o poeta, nota que os piores são sempre os mais passionais, enquanto aos melhores falta convicção.
Idem


Examinando sua vida, concluiu que havia feito tudo errado – Tudo. Sua vida estava arruinada, mas desde que não houvera muito para começar, não havia muito para lamentar. (...) Era inteligente ou idiota? Bem, agora não podia declarar-se inteligente. Tivera uma vez as características de inteligente, mas, como decidira ser sonhador, fora explorado pelos espertos. (...) É verdade que ele mesmo pedira para ser golpeado e deixara seus atacantes se fortalecerem. Aquilo levou-o a examinar o próprio caráter. Que tipo de caráter era o dele? Segundo o vocabulário moderno, era narcisista, masoquista e anacrônico. Seu quadro clínico era o de um depressivo mas não exatamente do pior tipo, maníaco depressivo. (...) Era inteligente? Seu intelecto seria muito mais positivo se tivesse um caráter paranóico e agressivo, ávido de poder. Era invejoso, mas não excepcionalmente competitivo – não um verdadeiro paranóico.
Saul Bellow, em "Herzog", 1964.

quarta-feira, março 15, 2006

Pediram arrego



E os tucanos vão mesmo jogar na defensiva. Diante do medo de perder tudo, pelo menos garantem o Serra, seja ganhando fácil o Palácio dos Bandeirantes, seja continuando na Prefeitura.

Para o Planalto, arregaram. Acredito que o Alckmin tenha mesmo uma fé (ou ambição)sincera nas suas possibilidades, mas ainda acho que ele vai ser boi de piranha para o Lulinha. Lula-lá traveis, minha gente.

Vou ter uma surpresa se o Brasilzão profundo comprar o Alckmim. O meu voto os tucanos já perderam. Como lulado arrependido, estava pensando seriamente em votar no Serra. No Alckmim, deixa pra lá.

terça-feira, março 14, 2006

Bienal



Não ia numa Bienal do Livro desde os tempos de escola. Estar lá numa tarde de segunda-feira e ter a experiência de ser atropelado por centenas de pirralhos ensandecidos, perseguidos desesperadamente por suas professorinhas ginasiais, no mínimo me despertou um bocado de saudosismo.

A coisa é demasiado grande, é verdade. Vale a pena somente para aqueles que curtem entrar numa livraria, gastar horas caminhando entre as estantes para, enfim, não levar nada. Se você tiver qualquer outro objetivo provavelmente há alternativas melhores.

Companhia das Letras, Record, Rocco, as editoras grandes estão todas lá, muito bem instaladas e representadas por atendentes lindas e cheias de gentileza. Mas os preços continuam os mesmos, proibitivos. Depois que se acostuma com os sebos, fica difícil desembolsar 60 reais num volume, por mais que a capa brilhante e as folhas cheirozinhas fiquem sedutoramente susurrando para você.

Compras, somente num lance de oportunidade. Foi o que encontrei na Editora Francis, a única que teve a boa vontade de cortar os preços em 50%. Fica a dica. A editora tem títulos de João Gilberto Noll, Isaac Bashevis Singer, Michael Moore, Ricardo Freire, Moacir Japiassu e, é claro, Paulo Francis. Fiquei com este último e fiz um pacotinho com três títulos – Cabeça de Papel, Cabeça de Negro e Trinta Anos Esta Noite – por 45 reais.

Só para lembrar quem estiver a fim – a Bienal vai até domingo, dia 19, no Pavilhão do Anhembi. Das estações de metrô Tietê e Barra-Funda saem ônibus gratuitos a cada 5 minutos.

quinta-feira, março 09, 2006

Na TV




Filhos do Carnaval

Depois da bem realizada “Mandrake”, “Filhos do Carnaval” é a nova aposta da HBO em produções made in Brazil.

A série é co-produzida pela O2 filmes, que já tem vasta experiência em contar as aventuras de gangsters no submundo carioca. Somando isso à velha e boa fórmula da sucessão de poder dentro de uma família mafiosa, e o jogo já está praticamente ganho. Jece Valadão, então, decide a parada.

O primeiro capítulo, ressalvas a parte, foi muito bom. Mais detalhes no texto que escrevi para o Scream&Yell.

quarta-feira, março 08, 2006

Saída, pela direita



E agora vamos em frente, ora pois.

Se alguém ainda não recebeu as novidades, o fato é que nas últimas semanas rompi os grilhões que me uniam ao malévolo capital internacional. Curto agora meus dias de desocupação e contribuo para engordar as estatísticas de desemprego da república lulesca. Apesar da situação não ser remunerada, isso deve ser o que chamam de liberdade. Vamos ver até quando aguento sem procurar amarrar meu burrinho de novo em alguma senzala por aí.

Não se assustem, a coisa foi rápida mas até certo ponto planejada. O saco já estava cheio, e minha vontade de sair já era clara. Um velho e bom deus ex machina veio então juntar a fome com a vontade de comer. A empresa abriu um programa de incentivo a demissões e o pacotinho oferecido foi suficiente para liquidar minhas dívidas com os amigos, o cheque especial, as prestações dos crediários e outras pendências. Já gastei tudo, mas agora estou zerado e dá para ir levando.

A velocidade de todo o processo (da possibilidade à decisão, e depois da ação ao fato consumado), no entanto, foi de assustar um pouco. Sinto agora a poeira baixando, e sinto também que vem chegando o momento daquele velho confronto solitário, o temível eu comigo mesmo. Muitas possibilidades podem significar nenhuma possibilidade mas, enfim, vou mentalizar o bom filósofo Fernando Vanucci e tentar evitar o medo de ser feliz. Relaxemo-nos, pois.

Lembro a todos que desempregado também significa aberto a propostas indecentes. Projetos, convites e sugestões indecorosas devem ser enviadas à tradicional caixa-postal de sempre. Minhas mãos começam a querer ser postas à obra.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

To be released



Semana de decisões pessoais por aqui, o que me deixa sumido deste mundinho virtual. Em breve algumas novidades. Torçam por mim.

sábado, janeiro 21, 2006

Melhores 2005



Tinha me esquecido de comentar. O Scream&Yell publicou já na segunda-feira a sua lista dos melhores de 2005. Foram 92 votantes em 11 categorias. Meus votos estão aqui.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

No Cinema




Cinema, Aspirinas e Urubus (2005)

Devido à correria do final de ano, demorei bastante para ver “Cinema, Aspirinas e Urubus”. Felizmente o filme caiu na graças da crítica e do público, permaneceu em cartaz, e acabei conseguindo me recuperar desta falta ainda pouco antes do reveillon. Mesmo com atraso, acredito que ainda vale a pena escrever sobre ele. De fato, é o melhor filme nacional de 2005.

Esta minha opinião não despreza, de maneira nenhuma, a qualidade também já tão comentada de “Cidade Baixa”, o outro longa que tem encabeçado as listas de melhores brasileiros do ano. “Cidade Baixa” é todo energia, libido à flor da pele transpirando em forma de sexo e pancadaria. Merece a salva de palmas, portanto. “Cinema, Aspirinas e Urubus”, no entanto, oferece o original e a novidade que há tempos não se viam nas películas nacionais.

Leia o texto completo no Scream&Yell.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Livros




The Unabridged Pocket Book of Lightining,
de Jonathan Safran Foer


Este pocket book da Penguin me serviu de amostra quase-grátis para conhecer o novo hype da literatura americana, Jonathan Safran Foer.

O livrinho contém um conto/ensaio curto do autor, publicado na revista New Yorker em 2003, e mais os três primeiros capítulos de seu segundo livro, o já lançado Extremely Loud & Incredibly Close. O texto de Foer, apesar de alguns lances de experimentação, é no geral bastante coloquial, o que faz a leitura em inglês não ser assim tão difícil.

Foer fez sucesso na América com seu livro de estréia, já lançado no Brasil pela Rocco. Tudo se Ilumina, aliás, foi adaptado para o cinema no ano passado. Dizem que o filme é bom também, mas queria ler o livro primeiro. Afinal, a amostra deixou um gostinho de quero-mais.

Alguém tem pra emprestar? Estou meio sem grana, sabem como é.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

U2



Hoje cedo, com o sol das doze a pino, saí do escritório munido de minha carteirinha de estudante e disposto a pagar 100 reais para ver o show que tinha perdido sete anos atrás.

Uma hora e meia depois estava de volta, um tanto chamuscado pelo clima ameno da terra da garoa e, é claro, de mãos abanando. Ganhei uma camisa molhada (ninguém merece entrar num carro sem ar-condicionado num meio-dia de janeiro) e perdi um pouco mais da minha inocência. Era óbvio que não se poderia esperar nada minimamente civilizado, bobinho.

Sem rancor, espero só que o papai Abílio de uns tapas na bundinha do querido JP. Só pode ter sido ele que, pra antender ao amiguinho de balada Acioly, meteu o Pão de Açucar nessa roubada.

Abrir o jogo



O bonito da pluralidade é que mesmo quando cada elemento está redondamente enganado, algo cada vez menos raro de acontecer, o resultado final do sistema tende a um equilíbrio minimamente coerente. Muitos diriam equilíbrio medíocre, mas, enfim, o caso aqui não é essa discussão.

O caso é que consegui ficar feliz com as capas das revistas semanais deste último domingo. Enquanto a Veja continua batendo no Duda e nos esquemas do governo, a Carta Capital mostrou o outro lado da polêmica do Gil X Caetano quanto aos incentivos ao cinema nacional. A imprensa tradicional (principalmente a Folha) vem se alinhando na fronteira anti-Ministério da Cultura, como se o caso fosse proteger a figura quixotesca do frágil Ferreira Gullar contra os ataques ditatoriais do governo. Por trás de tudo, é claro, os interesses dos suspeitos usais de sempre. E nem a ex-senhora Veloso nem o Barretão devem ser vistos como Davis contra Golias nessa estória toda.

A Carta Capital oferecer o "outro lado", no entanto, não é nenhuma novidade. Surpreso mesmo eu fiquei quando vi a capa da global Época. Mexeu num vespeiro e tanto. E, sobretudo, depois de tantas páginas da Veja dedicadas à harmoniosa família Alckmim, enfim algo que se deve deixar muito bem claro quanto ao perfil do nosso atualmente queridíssimo ex-insosso governador.

Me faço de inocente e peço algumas cartas na mesa, por favor.

domingo, janeiro 15, 2006

No DVD




Mestre dos Mares (2003)

Minha garota tem uma certa aversão pelo Russel Crowe. Não sei explicar o porquê e também nunca tentei buscar muitas respostas. Talvez ele a faça recordar algum trauma amoroso do passado, e essas coisas melhor não saber. O fato é que, devido a esta antipatia, este namorado complacente que vos fala acumulou duas importantes falhas no seu curriculum cinéfilo - Uma Mente Brilhante, filme vencedor do Oscar 2002, e Mestre dos Mares, indicado a melhor filme em 2004.

Pelo menos quanto a "Mestre dos Mares", confesso que não havia insistido muito para vê-lo. Na época do lançamento me pareceu um daqueles filmes históricos de loguíssima duração, ainda por cima passado todinho dentro de um navio, e as poucas cenas que vi me deram a sensação de algo modorrento, arrastado e escuro.

Aluguei o dvd na semana passada (a intenção era assistir sozinho, mas minha garota dignou-se a suportar o Russel Crowe) e percebi que minhas primeiras impressões estavam completamente erradas. "Mestre dos Mares" é leve, ágil e tremendamente agradável de se ver. É claro, trata-se de um filme de época, uma história de guerra, mas que não exige nenhum compromisso mais pesado para ser visto. Belas cenas de batalhas marítimas entremeadas por um sotaque britânico charmoso com toques de ironia e inteligência. A grande graça se deve, principalmente, ao embate interessante entre as escolhas do capitão Russell Crowe e as idéias do médico e pesquisador Paul Betanny - um sub-Almirante Nelson e um sub-Charles Darwin, amigos e colegas de embarcação, duelando nos mares do sul.

Enfim, nada genial ou com muita profundidade, apenas uma boa diversão com algum verniz cultural. Valeu a pena insistir com o Russell. Injustamente repudiado, afinal é um sujeito de talento.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Querências



Determinação de ano novo: escrever, nem que seja uma notinha sequer, sobre cada filme visto e cada livro lido em 2006.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Almodóvar



O Marcelo fez ontem um comentário no seu blog sobre os primorosos 10 minutos iniciais de Carne Trêmula. Assino embaixo. Ainda é meu filme predileto do espanholzito alegre.

Aliás, tem filme novo dele pra sair até o meio do ano.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

No Cinema






A Passagem (Stay)

Mais um filme sobre a vida, a morte e outros estados, digamos assim, mais etéreos. Tem sido uma obsessão hollywoodiana, mas este aqui é surpreendentemente interessante. E tem Naomi Watts, perturbadora e bela mais uma vez.

Depois de uma longa estiagem, mais um texto meu lá no Scream&Yell. Pulem lá e leiam ele todinho.