quinta-feira, outubro 31, 2002



Acoxambrações

Isso se escreve assim mesmo? Esse "x" está bem esquisito... Mas, se a palavra vem de "fazer nas coxas", deve ser assim mesmo...

O fato é que, graças a uma amigona do meu coração (não vou revelar o nome para salvá-la de pedidos indecorosos...), consegui resolver o problema dos comments aqui do bloguito. Agora também tenho YACCS!! Obrigadíssimo mesmo, senhorita!!

Mas, como pra mim nada é simples, agora começa a tal acoxambração. Por enquanto, vou deixar os dois sistemas de comentários ativos. O Enetation deve voltar ao ar daqui a pouco (ou quando Deus quiser...) e ali ficam guardados ainda os comentários antigos. Nos posts novos, peço que vocês dêem preferência ao YACCS para comentar.

Assim me desagarro do passado aos poucos, sem traumas nem choros...

quarta-feira, outubro 30, 2002



Everybody loves George?

No afã (bonito isso, hein?) de expressar opinião e defender algum ponto-de-vista, muitas vezes corre-se o risco de fazer simplificações fáceis e recorrer a generalizações.

Isso acontece muito, por exemplo, quando se desce a lenha nos nossos irmãos americanos do norte, os malditos, capitalistas e tapados ianques. Eu mesmo já me referi aqui à estupidez da "unanimidade bushiana" que demonstra-se dominante nos EUA.

Tudo bem, na sua maioria, a visão de mundo deles não deve passar da cerquinha branca do jardim, mas existem (precisam...) haver exceções. Sempre digo que Os Simpsons é a última esperança viva de que, pelo menos, ainda existe auto-crítica na cabeça do americano.

Por exemplo, para provar que nem todo mundo nos States concorda com o Bush, minha mana Ká enviou para mim esta tira de quadrinhos, publicada no San Francisco Chronicle. Eu só agradeço. Neste caso, é muito bom saber que minha generalização estava exagerada...







Ibope de Links

Os últimos dias foram bem monotemáticos neste bloguito. Já deu, né? Hora de mudar de assunto...

Uma das ferramentas que mais gosto neste mundo blogueiro é o TopLinks. Ainda por cima, é produto nacional: foi desenvolvido por um brasileiro exilado no Canadá, o Cris Dias, inspirado no gringo Blogdex.

O “robozinho” do TopLinks varre todos os blogs cadastrados no seu sistema e oferece uma lista dos principais endereços “linkados” nestas páginas. Já encontrei muita coisa nova e interessante mergulhando nessa lista.

Mais bacana ainda é a nova função da ferramenta: você coloca um endereço (sua página, por exemplo) e ele te mostra todos os links deste endereço encontrados nos mais de 34.000 blogs já cadastrados. Bem legal.

Já tinha me cadastrado há algum tempo. Agora coloquei o “robozinho” ali embaixo, na coluna da esquerda. Dê um pulinho lá, confira e não esqueça de cadastrar também o seu bloguito.

terça-feira, outubro 29, 2002



Perdoai-os, eles não sabem o que falam

Com a palavra o colunista social do Estadão, Cesar Giobbi...

Portas abertas
O Brasil, uma hora ou outra, ia ter de viver esta experiência de esquerda. Pois não há melhor momento do que este. O País está estruturado, organizado, saneado. FHC deixou tudo pronto, inclusive portas abertas para mais mudanças e consertos. O que não deu para fazer foi porque o PT não deixou. Mas vai ter de fazer agora. Portanto, mais do que um governo de ruptura, este vai ser um governo de continuidade. Embora o discurso seja completamente outro, a verdade é essa mesmo. Graças a Deus. Porque o Brasil, com suas exigências, é maior do que qualquer ideologia. Começa, portanto, em janeiro, a administração Silva & Silva. E vamos todos torcer para que dê certo. O que ninguém quer é que o Brasil ande para trás.


Ao ler isso, num primeiro momento, senti um misto de raiva com desgosto (vcs já perceberam como adoro sentimentos misturados...). Esse "torcer pra que dê certo", na verdade preenchido pela ironia e pela inevitabilidade do "já que é assim, fazer o quê", é duro de engolir.

Mas o pior para o meu estômago foi a notinha seguinte. Não era opinião dele, simplesmente um relato do pensamento de terceiros:

Adesivo ressentido
Assim mesmo, há quem tenha ficado ressentido com os resultados mais do que esperados das urnas. Já se ouviu, no fim de semana, em almoços, gente dizendo que vai usar nos vidros dos carros adesivos dirigidos aos pedintes e ambulantes das esquinas. Nos adesivos, a frase: "Vai pedir pro Lula."


Nesse ponto fiquei fulo mesmo. Cogitei até enviar um e-mail para o tal colunista; depois pensei que seria melhor achincalhá-lo aqui mesmo.

Mas não vou achincalhar ninguém. César Giobbi assina sua coluna e, portanto, escreve o que bem entender. Tem o direito de destilar a vontade sua mágoa ressentida e de expressar a ignorância da aristocracia paulista como quiser. Talvez seja difícil de acreditar, mas agora não são mais eles que estão no palácio. E isso deve doer.

Discordâncias e cobranças são sempre salutares e necessárias. Com certeza o novo governo sofrerá críticas ferozes. Algumas serão embasadas, coerentes e construtivas; outras, infelizmente, virão como aquelas acima: ignóbeis, preconceituosas e limitadas. A verdade é que sempre vai haver esse tipo de opinião, de ambos os lados deve-se dizer. Mas não vou "patrulhar" o pensamento dos outros, como dizem por aí. Apenas discordo e lamento.

Triste é ver esse tipo de opinião publicada e assumida. Triste é constatar a ainda gigante miopia de certas pessoas, incapazes de perceber que estamos todos no mesmo barco.



Cair de pé, ou não...

Eu não tinha nada contra ele, até admirava o dito. Era meio sem-graça, mas parecia confiável e competente. Submetido à pressão, no entanto, aos poucos foi revelando sua arrogância e prepotência.

Subjugado, rejeitado, derrotado - mas ainda vivo - poderia demonstrar um pouco de dignidade e espírito público, isso não faria mal a ninguém. Mas não. É tão obsessiva sua ambição individual que já estou pegando raiva desse sujeito

Xô Uruca!!



subject: Carta de Maracangalha XII
date: 28.10.2002


Oi Ká!

Tudo bem contigo?

Estava com a idéia de que esta seria a carta de número 13. Mas não, é apenas a 12. É, você acertou, eu queria fazer um trocadilho e não deu certo. Porque o 13 é mesmo o número da vez...

Você precisava estar aqui ontem; a festa foi emocionante. É cair no lugar comum, mas foi tudo inesquecível. Ainda mais após três semanas de segundo turno gerando um sentimento contraditório, uma mistura de ansiedade e receio. Havia uma tensão no ar, uma espera nervosa pelo que já deveria estar certo.

Mas como o difícil é mais gostoso, talvez tenha sido melhor assim. Ontem soltou-se o grito da garganta e a comemoração lembrou Copa do Mundo: o povo na rua, a manifestação de alegria, a emoção no rosto das pessoas. Mas foi ainda mais bonito que qualquer conquista de campeonato mundial. A felicidade ali não era da vitória já consagrada, mas da esperança pelo futuro.

Essa esperança pode ser piegas, boba até, mas me deu um nó na garganta. Olhos realísticos e objetivos podem achar tudo isso sem sentido e sem valor. Mas ver na TV hoje o depoimento das mais diferentes pessoas, enchendo o peito de confiança, identificação e orgulho com o Lula, foi, com o perdão da palavra, muito foda. Se todo esse símbolo, essa energia, essa força não tiver valor, não sei de mais nada. Depois de muito tempo de ceticismo, ontem eu vi fé nos olhos das pessoas. Vontade de mudar e de fazer desse país um lugar decente.

Confesso que tudo isso mexeu comigo. E olha que, como você sabe, não sou um petista categórico, muito menos militante, nem mesmo sou um eleitor fiel do Lula. Lembra de como, nesta nossa querida casa de família unida e imigrante, de vovôs malufistas e papais pragmáticos, não é fácil assumir-se um idealista. Tive de começar aqui pela comarca, com o saudoso Celso Daniel, oPTando aos poucos, passando por deputados e senadores, escolhendo Bicudos, Suplicys e Genoínos, mas sempre colocando estes no meio de outros tucanos. Você sabe também que tenho um lado crítico, chato e racional, que odeio adesismos automáticos. Talvez por isso, somado quem sabe a um preconceito subconsciente, nunca havia votado no Lula antes. Foi preciso me decepcionar com a estagnação política do tucanato para que, no começo deste ano, eu "saísse do armário" de uma vez.

Posso dizer que matei a Regina Duarte de dentro de mim e Lulei gostoso. E a primeira vez, como todas da vida, foi emocionante e inesquecível.

Agora a hora é de cobrar consistência, exigir coerência, apoiar e reclamar quando adequado e necessário. Acredito que o tal "pacto social" e o "amplo debate", tão declamados pelo barbudinho, são muito importantes. Por outro lado, tenho receio que esse discurso comece a ter cheiro de "Centrão", aquela velha coalizão da Constituinte de 88, onde sempre cabia mais um. É perigoso passar a colocar para dentro da mesma panela todo e qualquer ingrediente. Existem interesses divergentes sim, e às vezes escolhas terão de ser feitas. Que sejam as escolhas certas.

Aí nos States parece que a repercussão foi melhor que o esperado, não? Vi ontem na CNN a Av. Paulista coberta de bandeiras vermelhas, foices e martelos, mas a apresentadora gringa não parecia ter um tom alarmista. O discurso era até bem positivo. Que sentiste? O Tio Bush ligou pro barbudinho hoje e dizem que tiveram uma prosa amistosa e "esfuziante". Nice people, hein?

Bem, chega de lero-lero. Análises e divagações não faltam por aí... O que importa agora é que a expectativa virou realidade e que a pedreira que se tem pela frente é dura, muito dura.

Como diriam os doutos, alea jacta est...

Tudo de bom e inté mais ver..

Beijo,

Drex

segunda-feira, outubro 28, 2002



Vocês não concordam que o momento merece a primeira foto do Cartas de Maracangalha?






domingo, outubro 27, 2002



Sempre me alertaram pra não juntar emoção com decisão
E que a esperança não combina com o atual déficit cambial
Cuidado pra não sonhar e depois posar de palhaço
Me aconselharam o equilíbrio e a razão
E me deram um coração cansado
Por favor, me deixem
Que venha o futuro
Hoje eu só quero
pensar
agir
ser
um otimista

sexta-feira, outubro 25, 2002



Mais navegantes...

Alguns caros companheiros d'além mar ainda não estavam linkados. Agora já estão.

Também coloquei mais dois portos seguros lá embaixo: o e-zine Fraude e o site sortido Omelete, já citados antes por aqui.

Mouses à obra...

quinta-feira, outubro 24, 2002



Momento Supercine de Cinema

Filmes da Mostra SP de Cinema
(ora, por que perder a oportunidade afinal?)


AGORA OU NUNCA

O Ministério da Saúde Britânico deveria obrigar o diretor e roteirista Mike Leigh a estampar no cartaz promocional de Agora ou Nunca (Inglaterra, 2002) a seguinte advertência: “assistir deprimido pode levar ao suicídio”. Respire fundo, tudo aqui vai ser angustiantemente simples, banal, tedioso e sem-sentido. Irreversível, muitas vezes. No final, pode parecer sadismo, mas a jornada vale a pena.

Se você assistiu ao mais aclamado filme de Mike Leigh, Segredos e Mentiras, ganhador da Palma de Ouro em Cannes 1996, sabe do que estou falando. Leigh, inspirado por suas raízes teatrais, costuma fazer filmes de baixo orçamento, com diálogos improvisados, elenco sem glamour e estórias simples sobre a vida cotidiana. A partir da vida aparentemente sem sal de pessoas comuns, ele consegue sempre extrair dramas intensos e dissecar personagens inesperadamente complexos.

Em Segredos e Mentiras ainda havia algum humor e auto-ironia, mas aqui o buraco é mais embaixo. Agora ou Nunca aborda a vida de três famílias proletárias moradoras de um mesmo conjunto habitacional. Passando por todos os problemas corriqueiros da vida, do alcoolismo à depressão, da falta de dinheiro à gravidez indesejada, todos ali se identificam em duas coisas: não vêem muito sentido nas suas vidas e estão acomodados com isso. Só uma das personagens exibe algum otimismo. No mais, todos parecem estar afundando numa espiral sem saída.

O que angustia aqui é a visão de que a vida não precisa ser trágica para ser triste. De como as limitações, frustrações e insatisfações do dia-a-dia acabam isolando cada um num mundo solitário e sem sentido.

No final do filme, nossas almas são salvas e concede-se um fio de esperança para os personagens. Mas isso acontece sutilmente, pois os problemas continuam todos lá, todos ainda por resolver. O que muda, simplesmente, é o modo de encarar estes problemas.

Talvez Leigh abuse um pouco da tragédia cotidiana de seus personagens. Ou talvez apenas carregue nas tintas para explicitar os absurdos labirintos em que costumamos entrar. Acaba usando um pouco da estratégia de ir até o fundo do poço para só então propor alguma saída. Esse tipo de redenção funciona melhor em Magnólia, mas a comparação seria injusta: Magnólia é uma obra-prima.

Agora ou Nunca não é uma obra-prima, mas é humano, sensível e honesto. Por isso, acaba não sendo de fácil ingestão. Mas, como propõe o filme, a vida não é fácil, mas é a vida.

Leia mais:

http://www.mgm.com/ua/allornothing/ - Site

http://www.contracampo.he.com.br/43/agoraoununca.htm - Elogio a sensibilidade

http://www.contracampo.he.com.br/43/agoraoununca2.htm - Critica ao pessimismo

quarta-feira, outubro 23, 2002



Momento Supercine de Cinema

Filmes fora da Mostra SP de Cinema
(porque ainda existem filmes em cartaz que eu ainda não vi...)


CASAMENTO ARRANJADO

Zaza é um cara solteiro de 32 anos de idade. É simpático, boa-pinta, moderno. Como diz seu pai, tem um carro do ano, TV de tela grande, um som da Sony último tipo. Papai sabe de tudo isso pois é papai quem banca tudo. Zaza está prestes a acabar seu doutorado em Filosofia na Universidade de Tel-Aviv. Não trabalha, portanto.

Do ponto de vista de sua família judia conservadora, Zaza é um solteirão. Pior, é um baita dum bom partido, queridinho da mamãe, mas ainda solteirão. Como isso?! Zaza deve casar, e logo. É preciso arranjar uma pequena virgem judia, de alma limpa e ilibada, se possível também razoavelmente rica.

Problema é que Zaza não quer se casar. Se finge de morto, tem outros planos. Está apaixonado por alguém que não se encaixa naqueles padrões. Pronto, está desenhado o filme: a luta do amor de um homem versus a vontade da família e a força da tradição.

Mas não é bem assim. O diretor israelense Dover Kosashvilla, em seu primeiro longa metragem, tem uma proposta mais realista. Zaza não é Romeu e sua amada não é Julieta. E Casamento Arranjado (Israel, 2001) pode deixar as almas românticas um tanto quanto incomodadas.

Num dos diálogos mais legais do filme, Zaza mostra que acredita no amor da mesma maneira que, como filósofo, acredita em Deus. Com esperança, mas hipoteticamente. Desejando que ele exista, mas sem fé verdadeira. Espera que o amor o liberte. Mas será que vale a pena?

É tentar se enganar se pensarmos que a família, a tradição e a continuidade religiosa são as únicas barreiras. A famosa Mãe Judia nesta estória tem um papel forte e determinante (além de muito engraçado). Mas quem, mesmo sem mãe conservadora, nunca enfrentou essa encruzilhada, nunca se colocou em dúvida ao ter de escolher entre o certo e o incerto, a realidade estável ou o sonho trabalhoso? Mais forte que a tradição é a comodidade. Ou talvez, uma coisa leve a outra.

Como aquele chiclete que agora esqueci o nome, Casamento Arranjado é agridoce. Nos EUA os exibidores devem ter quebrado a cabeça para classificá-lo – seria uma comédia romântica ou uma comédia dramática? Os diálogos e a edição tem um ritmo lento, que se estranha até. São raras as cenas em que dá-se o direito à música de fundo. As piadas e o humor entretanto estão sempre presentes. Porque a realidade com freqüência é ironicamente amarga, mas nem sempre possui trilha sonora.

O preço a pagar pode ser alto - Zaza vai assumir a fatura? Ora, não esperem que eu conte o final...

Leia mais:

http://www.celluloid-dreams.com/late/ - Site

http://www.uol.com.br/mostra/jornal/jornal112.htm - Falatório exagerado sobre a cena de sexo (é muito realista, bonita, mas é isso)

Scream&Yell - Procure na seção de cinema do finado zine a ótima resenha do Marcelo Costa.

segunda-feira, outubro 21, 2002



Em tempos de Regina Duarte e carros-bomba sem sentido, ainda prefiro um pouco de poesia...



Pois paz sem voz,
não é paz, é medo.


Marcelo Yuka, 1999



O Medo

Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino incompleto.

E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
Vadeamos.

Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.

Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.

Fazia frio em São Paulo...
Nevava
O medo com sua capa,
nos dissimula e nos berça.

Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.

Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?

Vem, harmonia do medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.

E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa curta subida.

O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema: outras vidas.

Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.

Adeus; vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo.

eles povoam a cidade,
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.


Carlos Drummond de Andrade, 1943



Se as coisas são inatingíveis... Ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, não fora a mágica
Presença das estrelas!


Mário Quintana, 1948



As duas últimas poesias foram roubadas do blog da Tchela... Pode ir lá que ainda tem muito mais...

domingo, outubro 20, 2002



subject: Carta de Maracangalha XI
date: 20.10.2002


Oi Ká!

Tudo bem com vocês? Tudo calmo aí com os gringos?

Me parece que o humor do Tio Bush tem andado mais calmo, não? Bem, talvez seja só a imprensa brasileira que não esteja mais falando tanto nele... É engraçado como a intensidade do noticiário internacional aqui no Brasil depende muito da falta de assunto interno. Quando falta assunto tupiniquim, eles mandam bala nas notícias sobre o apocalipe now iraquiano. Mas, como agora o tema do momento são as eleições, parece que nada mais está acontecendo no além-mar.

Nossa, falando em eleições percebi como esta carta demorou pra sair, né? Acho que te escrevi a última já faz quase um mês, lá pro final de Setembro. Bem, tudo acabou saindo mais ou menos como tínhamos conversado naquela carta. Algumas surpresas, mas nada de espetacular. Para presidente, tudo aconteceu conforme o esperado. Seria mesmo muito difícil o Lula vencer no primeiro turno. Entretanto, depois destas duas semanas de campanha do segundo round, já é possível sentir como foi mesmo uma pena a coisa não ter acabado já logo no 6 de outubro.

É claro, foi muito legal ver escolhidos os dois candidatos com as propostas mais consistentes e pertencentes aos talvez dois únicos partidos sérios da terra brasilis, o PT e o PSDB. Isso foi sem dúvida um avanço. Só que, ao mesmo tempo, esse resultado colocou esses dois partidos frente-a-frente, em uma briga de foice que não tem sido nada limpa.

Seria ótimo, e era até de certa forma lógico, que um governo do PT constituísse uma aliança progessista com os tucanos e pudesse finalmente dar alguma seriedade ao país. Enfim poderíamos deixar de fora o ranço da política antiquada, paternalista e corrupta de coisas como PFL, PMDB, PPB, PDT e etc. Pouco importando a idelologia, da esquera até a direita, seria uma opção pelo novo frente ao velho.

Essa briga suja do 2º turno talvez faça essa aliança impossível. Como já disseram por aí, criou-se uma "polarização artificial" entre os dois partidos. O PSDB está assumindo algumas posturas reacionárias e conservadoras que não têm nada a ver com o partido. O progama eleitoral do Serra desta semana me deu dor de estômago. E isso não é figura de linguagem. Os tucanos, jogando as últimas e deseperadas cartas, adotaram um discurso de exploração do medo, um terrorismo psicológico dos mais baratos. Colocaram a Regina Duarte para fazer uma declaração digna de reunião da Liga das Senhoras Católicas. Só falta agora pedir para que as famílias brasileiras acendam uma vela na janela contra o comunismo, como nos idos de 1964, quando a nossa temerosa classe média foi manipulada para apoiar o golpe militar. Quem diria que o digno partido da social-democracia brasileira se transformaria na TFP do século XXI. Isso tudo é falso, desesperado e eleitoreiro. É mesmo uma pena...

Bem, mas o que importa é que as eleições são daqui a uma semana. E, esbarrando no clichê brega, estamos mesmo nos aproximando de um momento histórico. Pela primeira vez na história brasileira o poder público muda realmente de mãos. Pela primeira vez, um partido de esquerda chega a Presidência do país. Um partido consistente e democrático, a ser eleito pelas vias institucionais. Apoiado por mais de 50 milhões de brasileiros que não viram no PT mais medo do que os franceses poderiam ver em Lionel Jospin ou os alemães em Gerard Schroeder.

Se os anos que virão serão de progresso ou estagnação, ninguém pode saber e não depende só disso. Como sabiamente disse o Macaco Simão, "um governo Lula a gente não sabe como vai ser, mas um governo Serra a gente já sabe que vai ser uma bosta"... Realmente importante é que essa rotação no poder público transmite um sinal claríssimo para as elites brasileiras. Um sinal de que não é mais possível sustentar esse modelo de exclusão social que existe hoje no país. Não é mais possível manter-se esse abismo desumano, essa imensa diferença de condições de vida entre as pessoas, e ao mesmo tempo conseguir manter o poder devido à alienação política da população. O povo, mesmo sem educação, hoje vê que é preciso mudar algo.

Talvez este seja o principal resultado destas eleições. Agora tornou-se impossível fechar os olhos a este sinal. E abrir os olhos será, sem dúvida, melhor para todos

Agora, que cada um faça a sua parte.

Beijo,

Drex



A capa da Veja desta semana fez por merecer uma assinatura.

Mereceu o cancelamento da minha assinatura.

quarta-feira, outubro 16, 2002



Momento Prestação de Serviço

No meio dos gostos pessoais de cada um, da discussão gerada pelo post abaixo (e de certa forma também ocorrida em todos estes blogs) dá pra tirar somente um denominador comum: banda velha toca por dinheiro, banda nova toca por tesão. E esses dois combustíveis dificilmente se misturam...

Se alguém então estiver a fim de ver e ouvir muito tesão, parece que o final deste ano reserva pelo menos dois festivais de bandas independentes em Sampa. Prepare-se:

STAR GUITAR FESTIVAL

* SÁBADO – 02/11 *

Evil Sounds Drink [16hs]
Biônica [17hs]
Transistors [18hs]
The Concept [19hs]
Pullovers [20hs]
Hurtmold [21hs]
Pelvs (RJ) [22hs]

* DOMINGO – 03/11*

Monokini [16hs]
Post [17hs]
Starfish [18hs]
Momento 68 [19hs]
Objeto Amarelo [20hs]
Forgotten Boys [21hs]
Thee Butchers’ Orchestra [22hs]

Local: Tramp Club - Rua Padre Garcia Velho, 63 – Pinheiros (próx. à Fnac)

Apoio: Revista Dynamite, Festival Upload, Volume 1, Indie Records, Velvet CDs, Plastic Fantastic, Esquizofrenia E-Zine, Editora Conrad, Slag Records.


Mais informações, inclusive sobre vendas de ingresso, acessem o Esquizofrenia (e aproveitem para conhecer este bacana e-zine musical organizado pelo Gilberto Custódio).

FESTIVAL UPLOAD 2

Ainda sem o set list de bandas divulgado, a segunda edição do maior festival de Sampa para bandas nacionais de pop e rock está confirmado para os dias 5. 6 e 7 de dezembro. Provavelmente no SESC Pompéia.

Melhor que isso, a organização do festival está aceitando inscrições de bandas. É só mandar o material para Festival Upload Caixa Postal 31248 - CEP 01309-970 - São Paulo, SP - Produtora responsável: INKER - Agência Cultura - E-mail de contato: upload@inker.art.br.

Informações tiradas do blog da Sylvie, o Baby Borderline.

Pronto. Nesses palcos pelo menos tesão não deve faltar...

terça-feira, outubro 15, 2002



Pimentas docemente ardidas

Demorei para escrever algo sobre o Red Hot Chili Peppers, não é? Resenha que se preze tem que sair logo no dia seguinte, just-in-time. Durante essa demora já encontrei duas opiniões bem diferentes sobre o show de São Paulo. O Sukrillius, que escreve no Abacaxi Atômico, comenta que foi o show do ano. Já o Alexandre Pettilo, que também é editor da Zero, escreve no BOL que a apresentação foi perfeita mas burocrática.

Tucanei. Isso mesmo, vou ficar no muro das lamentações paradoxais, dou razão para os dois.

Isso porque o show foi duca, muito bom mesmo; a banda estava musicalmente perfeita, entrosadíssima, além do Anthony Kieds ter me surpreendido com a qualidade da sua voz ao vivo. Mandaram as músicas mais tranquilas, porém lindas, do último disco, e detonaram a galera com todos os hits do Californication e do Blood Sugar Sex Magic. E ainda teve Suck My Kiss (que é minha preferida e eu nem esperava ouvir...).

Por outro lado, é também verdade que a banda já não consegue aquela conexão transcendente com a galera. Tá bom, traduzindo, faltou mesmo um pouco de tesão, de energia, de interação, de empatia com o público. Certa hora um amigo comentou comigo que o RHCP vai virar o Rolling Stones da nova geração. Banda cheia de hits com longevidade monótona. Será? Ou isso tudo é só papo de velho e na verdade somos nós, eu e o Alexandre Petillo, que já não conseguimos nos empolgar mais com as doses de pimenta-malagueta que hoje agitam a garotada?

Deu para sentir que minha opinião está muito pouco formada, né? Então esqueçam tudo isso e vão ouvir música que é o que interessa...



Sujeitinho insistente...

Sei que já estou sendo chato com essas indicações, mas como diz o clichê, não posso evitar. A coluna do Elio Gaspari desta semana está imperdível. Confiram.

Como bom jornalista, aquele que ataca tanto gregos como troianos, o Gaspari está batendo forte nos tucanos assim como na coluna passada criou polêmica ao criticar o candidato do PT. Para quem perdeu, ele criticou duramente o Lula por este ter aceitado, durante um jantar pouco antes do final do 1º turno, um presente do publicitário Duda Mendonça. O tal presente era a garrafa de vinho Romanée Conti bebida durante o dito jantar, com preço de aproximadamente R$ 6.000,00. Para Gaspari, um homem público que deseja manter a coerência, deve recusar esse tipo de agrado, seja de quem for.

Independentemente da minha opinião, acho que o Gaspari tem o direito de criticar esse tipo de atitude do Lula, pois ele cobra essa extrema lisura imparcialmente de todas as figuras públicas. Entretanto, há certamente outros modos de analisar-se a questão. Como fez também outra das opiniões imprescindíveis do país, o Luis Fernando Veríssimo. Simples e direto.

sexta-feira, outubro 11, 2002



Porque a vida também é fútil e corriqueira
(principalmente num final de sexta-feira modorrenta)

Fazendo uma daquelas viagens promocionais, o elenco da série de TV Scrubs esteve em São Paulo ontem. Meu Deus, como ninguém me avisou disso antes?!

Sério, Scrubs é atualmente a melhor série de comédia transmitida na TV. Passa na Sony, toda terça, às 21:30. Não tem pra ninguém. E tenho dito.



Livros & dissimulação

Não leio muitos livros. Pelo menos, não tantos quanto gostaria. Confesso que tenho inveja de alguns amigos que consomem facilmente um livro num fugaz fim-de-semana. Ou de certas listas que já li em diversos blogs, feitas por algum desses leitores vorazes, estabelecendo a marca de trinta, quarenta livros lidos apenas neste ano corrente. Meu cunhadão de além-mar, o Peter, é uma dessas traças humanas. Compra sempre três ou quatro livros de uma vez e devora todos em menos de duas semanas. Sem nenhuma ironia, admiro muito isso.

Meu ritmo é bem menor que esse. Minha média tem sido, entre altos e baixos, um livro por mês. Não que eu não goste de ler. Adoro, e acho essencial. Mas sou preguiçoso, além de indisciplinado. Talvez alguns outros interesses também me desviem dos livros e me levem a prazeres de consumo mais fácil, como CDs, revistas, jornais, séries de TV e filmes. Ou mais fáceis ainda, como bater papo em mesa de bar. Mas isso tudo é desculpa; o fato é que gostaria de ler mais.

Por essa razão (a lerdeza da minha leitura), raras foram as vezes que repeti um livro. Imaginem, com minha paulatinidade e me sentindo devedor com todos os grandes mestres da literatura mundial, como eu poderia gastar tempo lendo um livro novamente? Próximo da fila, por favor... Pensando bem, acho que nunca tinha feito isso antes.

Agora já fiz. Mês passado (olha a minha média aí...) peguei novamente Dom Casmurro, do Machado de Assis, para ler. Havia acompanhado a saga de Bentinho na época, e com o objetivo, do vestibular, lá nos idos de 1992. Definitivamente, dá para saborear muito melhor as ironias do Machadão depois de ganhar mais dez anos de bagagem nas costas.

Mudando de assunto um pouco, só para concluir. Meninas, acordai. Ao invés de reclamar que a situação está difícil, que faltam homens no mercado, que nenhum moçoilo mais quer compromisso, eis a minha dica: sigam os ensinamentos de Capitu. Está tudo lá. Sonhas com rapazes comendo na tua mão, abanando o rabinho feito cãozinhos? Leiam-na e releiam-na. Sejam oblíquas e dissimuladas. Aí então, coitados de nós...



Extra!

Olha só como sou cool... Vou fazer igual ao Lúcio Ribeiro e dar uma notícia pescada diretamente do site da NME.

Os ingressos do show do Red Hot Chilli Peppers estão esgotados. Não, não estou falando do show de amanhã em Sampa, ainda com ingressos disponíveis (tel. 6486-6000)... Eu sou cool (já disse isso antes, não?) e tive informações privilegiadas que o RHCP irá fazer 5 shows no Reino Unido. Em março de 2003. E os ingressos já acabaram. Dá uma conferida aqui...

quinta-feira, outubro 10, 2002



Já que estou mesmo sem assunto e já que neste sábado estarei de volta ao Pacaembu, resolvi remexer o baú de velharias. Para quem interessar possa, eis abaixo algumas lembranças do começo deste ano...

Roger Waters - São Paulo - Março, 2002

Já vou logo dizendo que não sou um fã do Pink Floyd, não tenho nenhum disco, nem ao menos sabia que Roger Waters era o baixista do grupo. Não me xinguem por isso. Conheço a banda pelos seus (grandes) clássicos que tocam nas rádios e por alguns amigos fanáticos. Aliás, uma das razões que me levaram ao show foi uma dessas amigas fanáticas. Tudo bem, era o sonho dela, não podia negar a companhia. Por outro lado, sei também que o Floyd é fundamental, tem grandes músicas e que a oportunidade seria única. Então fui... fui ver o show do Pink Floyd. E até que o tal Roger Waters valeu a pena...

Mas não foi tão fácil assim. Apesar de ter conseguido o ingresso por só 20 reais, tive que pagar meus pecados em 2 horas de congestionamento até chegar ao Pacaembu. Afinal era um dia histórico, concerto do Floyd somado ao maior congestionamento da Terra. 220 km!! Imaginei como estariam os fãs naquela hora, presos no trânsito, loucos e ensandecidos, prestes a perder o momento esperado por mais de 20 anos. Bem, mas tudo acabou dando certo, a chuva também ajudou, derrubou uma torre de luz e o show atrasou mais de 40 minutos. No final, chegamos, sentamos e tudo começou após apenas 10 minutos. Perfect timing!

Luzes, câmeras e Roger Waters, compenetradíssimo, detonando seu baixo. Aquela orquestra maravilhosa (sim, aquilo é uma orquestra) arrepiando o Pacaembu com todos os seus famosos arranjos apoteóticos e hipnotizantes (era só o início, The Days Of Our Lives). Já logo ali, chega o hino, Another Brick on the Wall, e a galera solta os pulmões. Foi simplesmente bonito.

Aí veio Mother, belo poema (me lembra Dylan...), e mais algumas músicas que não conhecia. O som, o telão e toda a produção vão chamando a atenção. Tudo bem, eu estava sentado longe pra dedéu, mas mesmo assim curti o espetáculo visual. Pra fechar a 1º parte, Wish you were here, pra qualquer fã chorar. Eu não, lógico, sou macho, só cantei junto...

Intervalinho de 20 minutos, respirar e analisar o ambiente. Público eclético e tranqüilo. Cabeludos (alguns), patricinhas (surpresa, muitas), famílias inteiras e galeras várias. As arquibancadas estavam cheias e a pista (com cadeiras...) vazia pela metade. Retrato do Brasil, os lugares podem até sobrar, mas os organizadores gente boa não abaixam os preços. Se queima o café, mas não se vende barato.

No segundo tempo, alguns outros clássicos como Time (muito legal...) e Money. Daí vieram algumas músicas da carreira solo e, confesso, me deu um pouco de sono (poxa, a sexta foi braba, tava cansado...). Pra acordar, o gran finale, com a pensante Comfortably Numb recitada por 20 mil pessoas. Teve ainda o bis com uma música nova feita pra Anistia Internacional. Foi bonito e tal, mas já era meio o anticlímax.

Resumo: show impecável, profissionalíssimo, certinho em todos os detalhes. Pra mim, um não-fã curioso, confesso que não teve aquele tesão, aquele êxtase quase sexual dos grandes shows de rock (vcs sabem do que estou falando, não??). Mas valeu muito a pena, valeu mesmo.

Depois ainda teve uma gostosa caminhada pelas ruas do Pacaembu, bairro tradicional e muito legal de Sampa. Noite linda, quente, cheia de estrelas... E, pra terminar, uma boquinha no Burgão da Doutor Arnaldo. Dá pra querer mais? Ê, São Paulo...

terça-feira, outubro 08, 2002



Terríveis homenzinhos verdes

Fui ver Sinais neste último fim-de-semana e pude chegar a uma conclusão: o tal diretor indiano de nome esquisito é mesmo sensacional. Definitivamente não é para qualquer um escolher um dos mais explorados temas de ficção, já batido e surrado nos mais diversos estilos, de Orson Welles a Men In Black, e conseguir fazer um filme extremamente tenso, soturno e nervoso. Realmente o indiano tem uma mão afinadíssima...

Muita gente não gostou do filme. Pudera, concordo que homenzinhos verdes é coisa de estória da carochinha. No entanto, confesso que, pra mim, o filme foi aterrorizante. Não sei, talvez além do talento do indiano, algo do filme tenha mexido comigo. Despertado algum daqueles medos escondidos, aqueles que a gente treina pra disfarçar e faz força pra deixar bem quietinho.

Porque acredito que é possível colocar qualquer coisa no lugar daquele rídiculo homem verde. Esse é um filme sobre medo. Medo do desconhecido, medo de ver as coisas acontecerem e não ter controle sobre elas, medo de sentir-se incapaz, medo de perder a esperança. Coisas assim, que chegam a ser estranhas de tão banais. É claro que não pensei sobre tudo isso durante o filme, mas o resultado foi consequente: duas horas de tensão.

Sujeitinho sorrateiro esse indiano...

segunda-feira, outubro 07, 2002



Momento Vendendo a Alma por Dim-Dim

Eu até aceito que um diretor, ator ou atriz de cinema faça de quando em quando um filme "pipoca" e caça-níqueis para poder faturar dim-dim e financiar um projeto mais pessoal, elaborado e não-comercial.

Mas dou risada pra não chorar quando um controvertido e polêmico crítico musical, da estirpe de um Álvaro Pereira Júnior, faz uma matéria para o Fantástico acompanhando Sandy & Júnior em seu emocionante e frenético dia eleitoral. E ainda nem foi preciso perguntar em quem eles iriam votar...

EJECT nele!



E chega de eleições... Não vou mais falar sobre isso, pelo menos até a próxima semana... Bem, por três dias no mínimo, vai...



Festa da democracia

Plagiando o grande Elio Gaspari, o andar de cima não se cansa de zombar da patuléia. Faz-se a choldra votar, mas não importa como. Afinal votar, mais que direito, é dever, é obrigação, dá trabalho e exige sacrifício. Mas não esqueçam de levar esse santinho, nem de voltar para pegar sua dentadura mais tarde. Se sobrar tempo, é claro.

Enquanto Maluf vota em 5 minutos em Higienópolis, na Cidade Ademar o povo confraterniza-se ficando até 3 horas debaixo do sol. Mas não falaram que, na tal democracia, voto de rico vale tanto quanto voto de pobre? Ah, então deve ser porque o Doutor Paulo acordou mais cedo...



Administrando expectativas

As trombetas já anunciam a derrota do PT neste 6 de outubro. Deixaram passar a oportunidade de levar a presidência já no 1º turno. Este será o discurso alardeado pelo governo, pela imprensa aderente e pelos tucanos.

O maior desafio de Lula neste primeiro momento será administrar a frustração do "já ganhamos no 1º turno" e rebater essa análise tendenciosa. Afinal, obter a maior votação histórica do PT, com 39 milhões de votos, mais de 46% do eleitorado e o dobro de votos do 2º colocado, convenhamos, não tem nada de derrota.



Estamos aprendendo

Passando o olho pelos resultados para o Senado e para o Governo dos Estados, dá pra notar um surpreendente avanço dos partidos progressistas (incluindo aí os tucanos, PT, PSB, PPS e outros). Mais do que isso e independentemente da tendência ideológica, tem muita gente nova despontando por aí. Muitos velhos coronéis e antigas oligarquias estão sendo derrotados.

Sepultamos definitivamente Maluf e Quércia em São Paulo. Newton Cardoso (MG), Gilberto Mestrinho (AM) e Antonio Britto (RS), foram impiedosamente abatidos a tiro. Leonel Brizola, no Rio, está procurando o antigo eleitorado até agora. Íris Rezende em Goiás está cambaleando e gente moralmente anti-higiênica, do tipo de Joaquim Roriz (DF), teve vitória fácil frustrada e vai ter que lutar mais um round.

Luzes no fim do túnel...



Estamos aprendendo?

Na Bahia, ACM elegeu-se com mais de 30% dos votos e volta ao Senado após rápidas férias forçadas. Além disso, leva consigo seu fiel escudeiro, César Borges, como segundo senador, e fez seu candidato a governador, Paulo Souto, já no primeiro turno.

No Rio, além da Garotinha já ter levado de primeira, elegeram também o bispo Marcelo Crivella, aquele da Record, para o Senado. Isso deixando de fora gente do calibre do tucano Artur da Távola.

Alagoas continua dividida entre os dois sinhozinhos, Ronaldo Lessa e Fernando Collor. Alguns velhos matutos continuam firmes, como Espiridião Amim em SC e Jarbas Vasconcelos em PE.

Ainda demora...




Onda Fascista

É possível tirar dos resultados destas eleições as interpretações mais estapafúrdias. Uma delas, por exemplo, é a verificação inconteste da marcha do nazi-fascismo entre o povo de São Paulo. Doutor Enéas obteve 1 milhão e meio de votos na disputa para deputado federal. Sua companheira (irmã? mulher? filha? amante??) Doutora Havanir, obteve 600 mil votos para deputado estadual.

Pensei comigo, ah, mais dois loucos na Câmara não vão fazer diferença. Que nada... Pelo coeficiente eleitoral, a proporção de votos obtida pelo Dr. Enéas lhe dá o direito de eleger praticamente todos os candidatos do PRONA. É mais ou menos assim: a votação de Enéas, mais alguns votos pingados dos candidatos do PRONA, totalizou aproximadamente 9% dos votos para deputado federal em São Paulo. Dessa forma, o partido terá direito a 9% das cadeiras de São Paulo. Ou seja, dos 70 deputados federais de Sampa, seis ou sete serão do PRONA. Mas que partido nanico, hein?

Realmente a marcha fascista está em franca evolução. Ou talvez seja só o povão se vingando das três horas de fila de ontem.

sexta-feira, outubro 04, 2002



Debate

Que se lixe todo o arranjo político, as estruturas e alianças partidárias, as propostas de governo. Que tal analisarmos exclusivamente o desempenho dos candidatos no debate de ontem?

Me desculpem os governistas ou qualquer um que desgoste do barbudinho. Mas se os tucanos queriam realmente ganhar esta eleição, deveriam ter escolhido alguém melhor que aquele carequinha. Reconheço toda a sua formação, experiência e reputação técnicas, mas apesar de ter tudo isso, ele fica no chinelo em termos de carisma, liderança e jogo de cintura. Isso frente a alguém que, como insistem em dizer, não tem nem mesmo o curso superior.

Lula ontem se esquivou das provocações, evitou polêmicas, não ofereceu respostas objetivas. Fugiu do debate? Não, simplesmente se comportou da maneira mais adequada para sua candidatura. Demonstrou toda a habilidade e preparação que Serra reza todo dia para Deus (ou para o Nizan) lhe dar.

Sem entrar no mérito de quem faria o melhor governo, Serra demonstrou-se um péssimo candidato. Ele tem carisma para ser, no máximo, deputado federal.



Sucessão

Pensou que eu ia falar de eleição de novo, né? Bem, já chega disso... Que tal algo mais sério?

Depois da morte do Quadradinho e do Scream&Yell, dá pra sentir um certo vácuo no espaço dos e-zines culturais. Pelo menos sinto isso na minha rota diária internética. Entre coisas velhas e outras novidades, algumas opções pleiteiam o posto de sucessores. Rei morto, rei posto? Ainda não, nenhuma delas já conquistou meu coração, mas são opções legais pra se experimentar:

O já velho Omelete continua muito bem-feito. Bem-feito até demais... Tem aquela cara meio industrial, que acaba tirando um pouco do charme e da espontaneidade. É patroncinado pela Editora Panini, e isso também leva o site a ter uma forte concentração nas matérias sobre HQs. Não gosto da parte de cinema, mas tem algumas críticas e colunas musicais interessantes. O que vale muito a pena são as colunas do Marcelo Forlani, Don´t Mind The Gap, e do Juliano Zappia, London Arena.

Totalmente diferente disso é a proposta do Fraude, zine criado pelo Eduardo Fernandes (ex-CardosoOnLine) que concentra grande parte da turma daquele extinto zine, além de outras colaborações. Não contém muitas resenhas, mas oferece textos variados e refinados, opiniões, crônicas, ficção e "jornalismo gonzo". Dizem alguns que o Fraude é um tanto pretensioso. Mas eu adoro que se tenha pretensões quando se tem o que oferecer.

Novidade mesmo é o lançamento do Manivela, um zine que se entitula de "cultura alternativa", encabeçado pela Kátia Abreu (ex-Quadradinho). Ainda não mergulhei a fundo, mas está bem bonito, tem fácil navegação e parece ter um conteúdo de primeira. Vale a pena tentar.

Se alguém conhecer alguma outra opção interessante, por favor me avise. Por enquanto vou afogar minhas mágoas nestas três muletas. Quem sabe uma delas me conquista de vez...

P.S.: A Revista Zero, que oportunamente me serviria de muleta no mundo impresso e real, está me dando um baile. Tinha falado nela dias atrás, mas o lançamento do número três demorou um pouco. Parece que finalmente estará nas bancas na próxima segunda.

quarta-feira, outubro 02, 2002



Shortcuts

- O Lúcio Ribeiro anda anunciando a "redescoberta" do Morrissey lá pelo primeiro mundo e insistindo num provável revival dos Smiths. Tudo isso se encaixa logicamente nessa onda anos 80 que já chegou há algum tempo. O correspondente de além-mar Peter (meu caro cunhadão...) manda dizer que lá em cima, na Califórnia, realmente o Morrissey tem feito algumas apresentações. O ex-Smiths inclusive abriu (isso mesmo, abriu...) alguns shows da maior banda de rock mexicana, os Jaguares, e parece que faz meio o papel de guru-musical para os tais chicanos. O gente-boa está com a moral alta entre o público latino dos States, conforme diz essa nota aqui, já do mês passado.

- Não fui só eu que achou que "O Articulador" era um contraponto à atual "unanimidade Bushiana". Li ontem que o filme estreou no Brasil antes mesmo de ser lançado nos States, o que é extremamente incomum. Isso porque os produtores preferiram adiar o lançamento por acharem um tanto inoportunas as críticas feitas no filme ao prefeito Rudolph Giuliani e à classe artística de Nova Iorque. "O Articulador" foi filmado antes dos atentados, quando apontar os excessos de Giuliani ainda não era sacrilégio...

- Estava ouvindo Mundo Livre S/A quando de repente achei que era o Tom Zé que cantava... Depois pensei que era o Raul Seixas... Me digam, sou só eu que viajo ou a voz daquele cara (a voz, não o som da banda...) parece muito com a daqueles dois baianos? Ou seria só o sotaque mesmo?

terça-feira, outubro 01, 2002



Aviso aos indecisos

Talvez seja díficil alguém ainda não ter se dado conta, mas as eleições são este domingo. Isso mesmo meu amigo, dia seis, domingo, daqui a 5 dias. Prepara-se, votar em seis calangos vai exigir inspiração e preparo físico. Já preparou sua colinha? Bem, nem eu... Ainda está indeciso? Também não tenha vergonha. Melhor estar indeciso do que, por exemplo, fazer parte dos 25% de paulistas que votarão no Quércia para senador.

Agora, se você ainda não escolheu seu candidato à presidência, me permita dar uma dica. Não, não vou te dizer em quem você deve votar, não adianta insistir...

Mas vamos fazer um trato: leia estas duas colunas, escritas por dois famosos brasileiros com posições políticas claramente definidas, Luís Fernando Veríssimo (assumidamente de esquerda) e Arnaldo Jabor (tucano roxo). Ambos estão, de certa forma, apoiando seus preferidos, Lula e Serra. Desculpe, não achei colunistas que assumam votar no Ciro ou no Garotinho...

Leia os textos atentamente. Daquele que te parecer menos paranóico, mais equilibrado, coerente, intelegível, positivo e genial, você adota o candidato.

Não deu pra decidir ainda? Então não deixe de ler os posts de ontem do Gravataí Merengue. Ele te explica direitinho...

Em quem vou votar? Desculpe, mas não quero te influenciar...



Perda

O texto sobre "O Articulador" postado ali abaixo foi vítima de uma triste ironia. Estava engatilhado pra enviar o texto ao e-zine Scream&Yell quando entrei no site e li o editorial escrito pelo Marcelo Costa: o S&Y tinha acabado ali. C´est fini...

Essas coisas sempre me trazem um sentimento um tanto contraditório. Sinto um certo pesar, uma tristeza inevitável pela perda de algo do qual realmente gostava. Por outro lado, fica também a certeza de que tudo muda e precisa mudar; os sonhos se renovam e novas coisas virão por aí. É um misto saudade anunciada X torcida pelo futuro que sempre me alça em qualquer despedida, seja ela do colega que muda de emprego, do amigo que viaja pro exterior, dos meus próprios recomeços.

Fica também a dúvida se é realmente possível manter algo de qualidade na Internet. Ou mesmo na imprensa cultural. Afinal até mesmo o idealismo mais incorpado uma hora morre de fome.

Mas é isso aí. O mundo gira e a Lusitana roda, assim como cobra parada não engole sapo... Boa sorte pro Marcelo e pro pessoal do S&Y, muita coisa boa ainda vai surgir dessa trupe. E espero também que ainda haja muito coelho pra sair dessa cartola chamada Internet. Eu, aqui do meu cantinho, faço força pra acreditar...



Momento Supercine de Cinema

O ARTICULADOR

Algumas coisas na vida são assim. Você sabe que deveria gostar delas mas, de verdade mesmo, lá bem no fundo, sabe que alguma coisa não deu certo, faltou algo, não houve o “click”. Saí da sessão de “O Articulador” (People I Know, de Dan Algrant) com esse sentimento. Trama interessante, temas controvertidos e bem desenvolvidos, algum suspense, atuação já usualmente soberba do Al Pacino. O que faltou afinal?

Mas vamos com calma. Antes de procurar a resposta, vamos ao filme. O tal “articulador” do título não se trata de um hábil negociador envolvido numa trama internacional. Ao contrário do que nossos títulos traduzidos podem sugerir, este não é thriller de ação. Al Pacino representa o personagem-título, Eli Wurman, um decadente assessor de imprensa de Nova York. Um título como “O Relações Públicas” seria mais adequado, mas talvez menos atraente.

O ponto é que, Eli Wurman, que no passado se envolvia com causas nobres e assessorava gente influente, hoje apenas inspira piedade daqueles que o cercam: Victoria Gray (Kim Bassinger, sempre luminosa), amiga e viúva de seu irmão, e Cary Launer (Ryan O´Neal), uma celebridade de Hollywood, seu velho e fiel cliente.

Dividido entre dedicar-se às suas causas idealistas, agradar gente famosa e manipular jornalistas, o angustiado Eli envolve-se numa delicada trama de interesses ao tentar ajudar aquele mesmo velho cliente. A partir daí, “O Articulador”, transita, de maneira um tanto indecisa (e talvez este seja o seu principal problema) entre a resolução desta trama e a discussão de alguns temas, no mínimo, interessantes.

É possível preservar e realizar os ideais, valores e sonhos da juventude? É possível obter sucesso e ao mesmo tempo manter-se eticamente limpo dentro de um meio marcado pela manipulação e pelo jogo de interesses? Quais são as chances de chegar ao fim da vida, olhar pra trás e perceber que realizamos algo que realmente importa? Ou que simplesmente queríamos? O “Articulador” lança estes dados e ensaia uma discussão interessante sobre estas e outras questões, digamos, um tanto desconfortáveis. Sendo que a figura angustiada e decadente de Al Pacino não nos dá muitas esperanças de obter respostas positivas.

O discurso do filme, que esboça críticas à cultura competitiva americana, ao conservadorismo do poder público, à falsidade de uma sociedade hipocritamente puritana, chega a ser interessante por oferecer um contraponto aos nossos atuais tempos de unanimidade “Bushiana”. Mas, mesmo nisso, o filme não decola, mantendo-se dividido entre desenvolver sua trama de suspense ou explorar mais profundamente esses temas Talvez um certo receio em tocar na ferida à fundo ou medo de tornar-se um filme muito “cabeça”. No fim, é isso que falta ao filme: decisão. Como, Eli Wurman, “O Articulador” é cheio de qualidades, mas padece ao ficar dividido entre suas idéias e suas necessidades de mercado.

Se você está interessado em assistir uma discussão interessante sobre idealismo e angústias existenciais, magistralmente interpretadas pelo grande Al Pacino, vá ver “O Articulador” agora. Mas vá sem expectativas de ver um grande filme. Não há idéias geniais, faíscas de criatividade, nem mesmo uma trama envolvente. Somente algumas velhas verdades que podem ser, sem dúvida, tão úteis quanto amargas.